Sírios votam em massa em Damasco para manter Assad na presidência
George Bagdadi.
Damasco, 3 jun (EFE).- Os sírios dedicaram esta terça-feira aos pleitos presidenciais na capital Damasco, onde a afluência de eleitores foi considerável, em eleições nas quais o líder Bashar al Assad tem tudo para ganhar.
Quase 16 milhões dos 23,6 milhões de sírios estavam convocados a comparecer hoje às urnas, que fecharão à meia-noite – após um período de cinco horas – em 9.601 centros de votação distribuídos pelas áreas do país em guerra sob controle do regime.
Desde primeira hora da manhã, as pessoas começaram a chegar às zonas eleitorais na capital, alguns a bordo de carros e ônibus decorados com a bandeira síria e fotografias de Assad, segundo pôde constatar a Agência Efe.
Em um centro de votação próximo a um conhecido hotel cinco estrelas de Damasco, os eleitores depositavam suas cédulas nas urnas de plástico colocadas em uma pequena sala.
Os integrantes da mesa eleitoral anotavam os nomes dos eleitores e os números de suas carteiras de identidade, sob os retratos de Assad e de seus dois oponentes: o deputado da oposição tolerada Maher Abdel Hafez Hayar e o ex-ministro Hassan Abdullah al Nouri.
Para os sírios ainda é estranho ver junto à propaganda de Assad, que está no poder desde 2000, a publicidade de outros aspirantes, já que estas são a primeiras eleições com mais de um candidato em 50 anos na Síria.
Mesmo assim, das dezenas de pessoas consultadas pela Efe, nenhuma disse que votaria em outro candidato que não fosse Assad.
Um deles era o dependente Kamil Qaderi, de 23 anos, que em vez de usar tinta para marcar a cédula usou seu próprio sangue porque, afirmou, estava preparado para “sacrificar-se” por Assad.
Outra seguidora entusiasta do presidente era a recepcionista Samia Asale, que vestia uma camiseta com a mensagem “shabiha forever”, em referência aos milicianos pró-governo, que apoiam o exército.
Asale se mostrou confiante em que Assad “liderará a Síria rumo a um futuro próspero”.
O coração da capital está sob ferrenho controle das autoridades, embora fosse possível escutar às vezes o barulho dos bombardeios na periferia, onde os soldados lutam contra os rebeldes no distrito de Guta Oriental.
Na capital, o respaldo ao presidente é significativo entre amplos setores da população, especialmente entre os cristãos e outras minorias religiosas, preocupados com uma hipotética ascensão ao poder dos islamitas se Assad não vencer.
“Votar em Assad é como lançar um míssil Scud contra as cabeças dos que querem desestabilizar o país. Eu voto em quem pode manter a estabilidade e a segurança na Síria”, disse à Efe Basim Samaan, um arquiteto de 34 anos, que fugiu de sua casa no subúrbio de Yobar, em Damasco, por causa dos ataques.
Samaan explicou que ele, a princípio, apoiava os rebeldes, mas que mudou de opinião porque sentiu que não buscavam de verdade a liberdade, depois que um projétil lançado pelos insurgentes destruiu sua casa e feriu um de seus filhos.
Em Damasco, vários foguetes caíram hoje em zonas do centro sem causar vítimas; enquanto nas demais províncias a jornada transcorreu sem incidentes.
Tanto a Comissão Judicial Suprema Eleitoral como a televisão oficial destacaram o grande número de pessoas que saíram hoje para votar.
Segundo as autoridades, milhares de sírios saíram do Líbano para comparecer nos centros de votação instalados em postos fronteiriços.
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Delegações de parlamentares de Brasil, Bolívia, Venezuela, Rússia, Irã e Zimbábue, entre outros países, se encontram na capital para acompanhar o pleito.
As eleições acontecem quando a Síria entra no quarto ano de um conflito que deixou mais de 162 mil mortos, seis milhões de deslocados internos e 2,5 milhões de refugiados em outros países.
No terreno, Assad está fortalecido pelos recentes avanços do exército.
Os últimos sete pleitos desenvolvidos na Síria foram, na verdade, uma espécie de referendo para confirmar o presidente rotativo, seja Bashar al Assad ou seu pai, Hafez al-Assad (1971-2000), nos quais sempre obtinham mais de 95% dos votos.
A nova Constituição, aprovada em um plebiscito em fevereiro de 2012, e a nova lei eleitoral abriram a porta para eleições com mais de um candidato, embora dificultem a apresentação dos opositores exilados no exterior. EFE
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