Soro impediria zika de chegar ao cérebro do feto, diz diretor do Instituto Butantan
O Instituto Butantan, em São Paulo, tem trabalhado em duas frentes de pesquisa contra o zika vírus: a produção de uma vacina, que pode demorar três anos para ficar pronta, e a confecção de um soro, que teria caráter mais emergencial e pode ser produzido em menos tempo. O próprio soro, em sua essência, tem um efeito mais imediato que a vacina. Enquanto a vacina estimula o corpo a criar anticorpos, preventivamente, o soro injeta anticorpos já criados por um terceiro e visa à cura do indivíduo infectado. Jorge Kalil, diretor do Instituto Butantan, espera, “enquanto não temos a vacina, fazer o soro”.
“Estamos trabalhando arduamente para conseguir as duas coisas ao mesmo tempo”, afirmou Kalil em entrevista exclusiva a Carolina Ercolin, repórter Jovem Pan. Ele ressaltou, porém, que são trabalhos independentes, mas que têm o mesmo início, a coleta do vírus. Os estudos do instituto podem usar também os conhecimentos adquiridos na criação da vacina contra a dengue, que já está na última fase clínica de estudo antes de ser aprovada.
“Ao injetarmos (o soro) em uma mulher grávida, nós queremos atacar o vírus, neutralizá-lo e não deixar que ele atravesse a placenta, vá para o cérebro do feto e faça toda a destruição neuronal que nós estamos vendo nos casos de microcefalia”, explica Kalil, ressaltando que está cada vez mais clara a relação entre a diminuição do cérebro do bebê com o zika e faltam apenas mais alguns experimentos formais. O pesquisador do Instituto Evandro Chagas, Pdro Vasconcelos, entende no entanto que a ligação entre os casos já está confirmada desde o ano passado no Brasil.
Kalil também criticou a letargia do governo brasileiro em liberar recursos e facilitar a importação de reagentes e envio material biológico ao exterior para agilizar as pesquisas contra o zika tanto dentro quanto fora do Brasil. “Etamos morrendo como país pela falta de agilidade”.
Origens do zika
Sobre as investigações a respeito do surgimento do zika como causador de microcefalia, Jorge Kalil pondera: “Não temos informações de que o vírus zika tenha mudado muito desde que foi descoberto na África em 1947”.
Os cientistas têm comparado as sequências do zika isolado no Brasil com as sequências isoladas na África. A tentativa é de se verificar se houve alteração importante nas proteínas que compõem o DNA do vírus “ou se não havia observação de vigilância médica nos países em relação à microcefalia”. Kalil destaca que a má formação do cérebro infantil pode ser causada por outros vírus, como a rubéola.
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