Superexposição pode aumentar trauma de vítimas de estupro, explica especialista
Vítimas de estupros coletivos, como os que aconteceram recentemente no Rio de Janeiro e no Piauí, têm grande chance de desenvolver trauma e a superexposição pode piorar o quadro, avalia Márcio Barbosa, psicólogo e professor da PUC-RS, supervisor do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse, em entrevista exclusiva à Jovem Pan neste sábado (28).
“Esses casos têm uma possibilidade importante de desenvolver nas vítimas reações pós-traumáticas que trazem bastante desconforto psicológico e, em alguns casos, mesmo dificuldade de interação pessoal, profissional”, explica Barbosa, destacando que nem todos que passam por situações traumáticas desenvolvem tal reação. Mas ressalta: “Quanto mais violento o evento, maior a chance de que isso aconteça”.
O psicólogo enfatiza também a importância de haver um tratamento profissional para tais casos, a fim de se evitar o estresse pós-traumático, ou tratá-lo logo no início, para evitar que ele se torne crônico. Quando o quadro psicológico é detectado cedo e o tratamento adequado é oferecido, maior expectativa de melhora, explica. Barbosa destaca ainda que no Brasil ainda é pequeno o grupo de profissionais que possuem o tratamento adequado para tratar casos como esse.
De acordo com a advogada da vítima carioca, Eloísa Samy, o governo não ofereceu ajuda à moça e seu psiquiatra tem sido pago por ativistas feministas.
Isolamento x superexposição
A vítima do estupro coletivo no Rio tem usado suas redes sociais para relatar seu sofrimento e pedir a punição dos criminosos. Ela ainda recebe e responde críticas online.
O especialista não vê como melhor solução afastar a jovem das redes, mas critica a superexposição. “De forma geral não é interessante isolar a vítima exatamente para não afasá-la de sua rede de apoio, de seus contatos pessoais”, explica Barbosa. “Em paralelo, também não é interessante provocar uma hiperexposição a situações que relembrem o evento, mas se respeitar o ritmo da vítima”, pondera.
O psicólogo explica que é bom que haja pessoas que apoiem a moça e “suportem” ouvir o relato do abuso “se ela tiver interesse em falar sobre o assunto”. Este seria o “suporte social”, pessoas que já tinham contato com a vítima e “se mantenham presentes” nesse momento.
Dois aspectos, porém, não são indicados: interrogar a moça a todo o momento e pedir detalhes sobre o crime. “Isso faz com que a vítima entre em contato com experiências muito dolorosas, que ela pode não estar preparada para reviver, relembrar, e pode estar relacionado com a piora do quadro”, avalia o pesquisador.
“Estar disponível para ouvir é interessante, mas não buscar o assunto ativamente se a vítima não mostra interesse em abordar maiores detalhes”, resume Márcio Barbosa. “Nem oito nem 80″.
A jovem carioca de 16 anos já foi interrogada três vezes pela polícia. Na mais recente, a advogada interrompeu o depoimento da moça e acusou o delegado responsável de tentar “criminalizar” a vítima com perguntas sobre seu estilo de vida.
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