Suposta execução de criminosos põe exército do México em xeque

  • Por Agencia EFE
  • 27/09/2014 07h15

Paola Martínez Castro.

Cidade do México, 27 set (EFE).- A detenção de oito militares mexicanos por sua suposta participação em um massacre de 22 civis pôs em xeque o exército do país, em um momento no qual o governo de Enrique Peña Nieto quer enviar tropas às missões de paz da ONU.

A Secretaria da Defesa informou que sete soldados e um oficial foram detidos na quinta-feira e apresentados perante um tribunal militar por sua suposta responsabilidade em “delitos contra a disciplina militar, desobediência e infração de deveres” nos fatos registrados no dia 30 de junho no Estado do México.

A investigação militar segue em paralelo a outra da Procuradoria Geral da República para esclarecer as condições nas quais morreram 22 supostos membros do crime organizado.

De acordo com a versão oficial divulgada até agora pelo Ministério da Defesa, os 22 civis morreram em um confronto armado ocorrido quando um grupo de militares que realizava trabalhos de vigilância foi atacado por desconhecidos.

No entanto, essa versão foi posta em dúvida por uma testemunha que assegurou à revista “Esquire” na América Latina que os soldados foram os que dispararam primeiro e que os supostos delinquentes reagiram.

A testemunha garante que no confronto morreu apenas um dos civis, os demais se renderam e, após serem interrogados, os soldados os mataram horas depois.

Essa versão é fortalecida pela publicação na sexta-feira de imagens “inéditas” enviadas na quarta-feira passada de maneira anônima à agência de notícias “MVT”, com sede em Toluca, capital do Estado do México.

O diretor da agência, Mario Vázquez de la Torre, disse à Agência Efe que recebeu as fotos na quarta-feira passada em uma memória USB enviada por meio de uma mensagem em um pacote que não lhe despertou especial interesse.

Após duas horas em sua escrivaninha, o abriu, revisou o material e o comparou “com as imagens da cena que fotografaram” seus companheiros no dia 30 de junho e “sem dúvida correspondem ao lugar onde foram assassinadas estas pessoas”.

De la Torre lembrou que nesse dia uma equipe de jornalistas se deslocou ao povoado de San Pedro Limón, no município de Tlatlaya, e fizeram “fotos e vídeo”, mas “já tinham levantado os cadáveres e removido as caminhonetes”.

As instalações estavam sob resguardo do exército e as imagens do interior foram feitas com sua autorização, mas estas fotos são inéditas, assegurou o jornalista, que destacou que por isso buscaram um advogado criminalista para que as interpretasse.

Após estudar as imagens, o advogado José Luis Mejía concluiu que a cena “foi totalmente manipulada” e os corpos mostram sinais de ter recebido disparos à curta distância.

Os corpos não registram o “giro natural que se apresenta ao receber um impacto de bala de grosso calibre de mais de 20 metros de distância”, declarou a “MVT” na nota publicada ontem com as respectivas fotografias.

Segundo o analista, isso “evidencia que essas pessoas foram sacrificadas em um lugar e depois arrastadas a outro onde se montou a cena, e todos foram atingidos nas costas para fazer crer que assim caíram, o que é impossível”.

Além disso, os corpos apresentam manchas de lodo na roupa, apesar de terem sido encontrados jogados sobre um terreno totalmente seco, e a escalação das armas está fora de uma lógica de enfrentamento.

Também não há evidência de uma só cápsula de projétil dos muitos que deveriam ficar na cena após mais de duas horas do suposto enfrentamento.

A organização Human Rights Watch (HRW) assegurou que “pouco a pouco se está desmontando a versão oficial destes fatos, que procura encobrir, proteger os responsáveis (…) dos crimes cometidos, mais uma vez, por parte das forças militares”.

O diretor da HRW para as Américas, José Miguel Vivanco, disse que se trata do “pior massacre dos últimos anos” por militares e espera que as autoridades civis esclareçam os fatos e identifiquem os responsáveis.

Já o secretário de governo, Miguel Ángel Osorio, saiu em defesa do exército ao assegurar que, caso se determine a responsabilidade dos militares nas mortes, seria “apenas uma ação isolada”, e pediu tempo para que a procuradoria avance nas investigações.

Por sua vez, o criminalista Gilberto Santa Rita disse à Agência Efe que o caso evidencia que o exército “violenta continuamente os direitos humanos”, motivo pelo qual já não deve estar à frente do combate ao crime organizado e também não participar de operações de paz de ONU, como anunciou nesta semana o presidente Peña Nieto. EFE

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