Suspeito de abusar de passageira é detido no Metrô de São Paulo
O Metrô de São Paulo informou nesta quarta-feira (23) que um usuário do veículo foi preso em flagrante, por volta das 16h40 de ontem (23), acusado de ter abusado de uma passageira. Um policial civil, que também estava no vagão, deteve o suspeito, e na próxima estação em que o trem fez a parada, policiais militares deram continuidade à prisão do acusado. Ele foi encaminhado para a Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), órgão responsável pela investigação dos crimes no sistema metroferroviário paulista, para prestar esclarecimentos.
Por meio de nota, o Metrô disse que o abuso sexual é um crime que deve ser combatido dentro e fora do transporte público, e que vem fazendo campanhas de conscientização e treinamento para que os funcionários operacionais estejam preparados para coibir este tipo de crime, e amparar as vítimas. “Desde o ano passado, o Metrô vem intensificando suas campanhas de cidadania e conscientização e as ações de combate ao crime”.
De acordo com as informações do Metrô, como resultado, o número de manifestações pelo SMS Denúncia do Metrô (97333-2252) passou de 10 casos em 2013, para 61 em 2014 e para 62 em 2015 (de janeiro a agosto). Com o aumento das denúncias, a ação foi ampliada e, atualmente, 89% dos abusadores descritos pelas vítimas são detidos pelos agentes do Metrô e encaminhados para a Delpom.
Ao mesmo tempo em que faz as campanhas, o Metrô promoveu um programa de combate ao abuso, e todos os agentes de segurança e de estação passaram por treinamento para acolhimento das vítimas. Em agosto, após o treinamento, foram implantados nas estações e trens cartazes informando os usuários que o Metrô disponibiliza uma rede de auxílio, com funcionários preparados, além de contar com câmeras de monitoramento que ajudam na identificação dos infratores. São mais de 3 mil agentes de segurança e de operação e 3.500 câmeras para monitoramento de estações e trens.
Na Companhia de Trens Metropolitanos (CPTM), o serviço SMS-Denúncia recebeu 106 mensagens relacionadas à assédio. A segurança encaminhou para a autoridade policial 46 usuárias importunadas, que conseguiram identificar os molestadores e lavrar os boletins de ocorrências. “Por isso, a companhia reforça que, em casos de ocorrência, as mulheres devem informar o fato imediatamente a um funcionário, apontando o autor e registrando queixa na Delegacia de Polícia”, disse a empresa, por meio de nota.
A companhia também vai ampliar até o final deste mês a campanha “Se eu Vejo, denuncio” nas redes sociais. O conceito da campanha é ter um personagem comum em cena nas dependências ou trens da CPTM, segurando um cartaz escrito à mão com os dizeres: “Se eu vejo, denuncio SMS 97150 4949”. Na postagem, além do recado institucional, haverá uma menção informando que a CPTM garante seu anonimato.
A massoterapeuta Lizandra Martins dos Santos, 43 anos, estava em um vagão cheio, e um rapaz pediu a ela que segurasse sua mochila, mas quando o vagão começou a esvaziar, ele não saiu de perto dela e começou a se insinuar. “Eu afastava e ele vinha de novo. Foi então que falei alto, joguei as coisas dele no chão e ele desceu do vagão. Normalmente, eu procuro ficar em locais estratégicos para evitar esse tipo de situação”.
Mara Santana é designer e tem 46 anos. Um dia estava dentro do vagão do Metrô e percebeu o homem se encostando maliciosamente nela. Como ele não parou, ela falou alto, mas ele agiu como se ela estivesse inventando. “Me senti muito fragilizada e desprotegida, porque as outras pessoas não falam nada. A gente fica sozinha”.
A estudante pega o trem da zona Sul para a Vila Leopoldina, zona Oeste, mas contou que nunca passou por esse tipo de situação. Entretanto, já observou diversas vezes homens se aproveitando da lotação do transporte para abusar de mulheres. “Mesmo que haja espaço disponível, eles abusam da oportunidade para acariciar as mulheres. Eu fico bem esperta e me afasto ou faço uma cara feia. Mas há mulheres que são reprimidas, e não conseguem agir assim”.
Para Rosana Chiavassa, da Associação das Advogadas, Estagiárias e Acadêmicas do Direito de São Paulo (Asas), é obvio que a mulher no transporte público é mais facilmente acometida por esses agressores. “Se a mulher pela qual o homem tem um afeto já sofre violência, imagina quando ela vira uma coisa, já que a cultura é machista de propriedade, quando vira coisa passa a ser alvo de toda e qualquer agressão”.
Rosana ressaltou que, além da cultura machista, o que contribui para que as mulheres sejam vítimas de assédio sexual no Metrô é a dificuldade para identificação e punição, por conta da superlotação. “Os vagões têm câmeras, mas elas não pegam o que acontece da cintura pra baixo quando está superlotado. A solução a curto prazo, infelizmente, é apagar fogo, com as pessoas se envolvendo, para ajudar a denunciar e facilitar a punição. Esses crimes acontecem com a certeza da impunidade. E a mulher tem medo do agressor”, disse.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.