Cérebro humano é o orgão com maior concentração de microplásticos

Material pode estar ligado à demência e foi encontrado em maior quantidade em tecidos cerebrais

  • Por Patrícia Costa
  • 23/08/2024 11h25
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Divulgação/Brasil BioFuels plástico Nos tecidos cerebrais de pessoas que morreram com demência foi encontrado 10 vezes mais plástico do que nas amostras saudáveis

A presença de microplásticos no cérebro humano, revelada por um estudo recente, traz à tona uma nova e preocupante dimensão da crise ambiental global. Estas partículas minúsculas, originadas da fragmentação de materiais plásticos, já haviam sido encontradas em órgãos como pulmões, fígado e até na placenta. No entanto, a descoberta de que os microplásticos podem atravessar a barreira hematoencefálica, que protege o cérebro de substâncias nocivas, é um alerta para os riscos à saúde humana e ao meio ambiente.  A barreira hematoencefálica é mantém o cérebro protegido contra toxinas e patógenos. A presença de microplásticos pode provocar inflamações crônicas, alterações no funcionamento celular e, potencialmente, doenças neurodegenerativas. Um estudo da Universidade de Hull, no Reino Unido, corrobora essas preocupações, mostrando que partículas plásticas podem induzir reações inflamatórias que afetam a função cerebral. Além disso, pesquisas anteriores, como as conduzidas pelo Instituto Norueguês de Pesquisa Aérea (NILU), já haviam indicado que a inalação de microplásticos pode afetar o sistema respiratório, sugerindo que o impacto dessas partículas é sistêmico, não se limitando a um único órgão. A acumulação de microplásticos no cérebro, portanto, adiciona uma nova camada de complexidade aos riscos para a saúde, que vão desde a exposição ambiental até o potencial impacto direto nas funções cognitivas e comportamentais.

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A origem dos microplásticos é variada: podem ser oriundos de roupas sintéticas, cosméticos, embalagens e até mesmo da degradação de resíduos plásticos maiores que circulam no ambiente. Essas partículas são levadas pelo vento e pela água, penetrando em ecossistemas distantes e se integrando à cadeia alimentar. Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma pessoa pode ingerir até 50 mil partículas de microplásticos por ano apenas através da alimentação, sendo que a água potável é uma das principais fontes. No Brasil, a situação é preocupante. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o país gera cerca de 11 milhões de toneladas de lixo plástico por ano, sendo que apenas uma fração é reciclada. A falta de políticas públicas efetivas e a ausência de uma cultura de reciclagem eficiente contribuem para o agravamento desse problema.

A descoberta dos microplásticos no cérebro humano exige uma resposta imediata e coordenada. Especialistas defendem que as políticas de gestão de resíduos sejam fortalecidas, com foco na redução da produção e consumo de plásticos. A pesquisa e desenvolvimento de materiais alternativos, biodegradáveis e menos nocivos ao meio ambiente, também devem ser priorizados. Além disso, é fundamental aumentar a conscientização pública sobre o impacto dos microplásticos. Campanhas educativas que incentivem a redução do uso de plásticos descartáveis e a adesão a práticas mais sustentáveis no dia a dia são essenciais para mitigar essa crise. A poluição plástica não é apenas um problema ambiental, mas uma ameaça direta à saúde humana. Com a confirmação de que esses poluentes podem alcançar e afetar o cérebro, o que antes era uma preocupação restrita ao ecossistema agora se apresenta como um desafio para a saúde pública. As soluções precisam ser amplas e integradas, com a participação ativa de governos, empresas e cidadãos. Reduzir, ou no mínimo, descartar de forma correta é um dever de todos nós.

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