Tanzânia enfrenta crise humanitária pela chegada de refugiados do Burundi
Nairóbi, 19 mai (EFE).- A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou nesta terça-feira sobre uma “severa crise humanitária” na Tanzânia causada pela chegada de dezenas de milhares de refugiados burundineses ao leste do país, onde foi registrado um surto de cólera e pelo menos sete mortos por diarréias.
Mais de 100 mil burundineses abandonaram o país nas últimas semanas pelas tensões políticas e a violência desencadeada pela decisão do presidente do Burundi, Pierre Nkurunziza, de aspirar a um terceiro mandato, excedendo os prazos previstos na Constituição.
A situação é especialmente preocupante em Kagunga, um pequeno povoado de pescadores junto ao lago Tanganica, que separa ambos países, e que aumentou sua população original de 11.382 pessoas a 90 mil desde o abril, informou a OMS em comunicado .
O deslocamento em massa de população desde Burundi alcançou seu máximo nos últimos dias, nos quais chegaram de 500 a 2 mil refugiados diários, o que transbordou os serviços de saúde locais.
Além disso, os refugiados contam com um espaço muito limitado para acampar, pouca higiene e equipamentos de saúde e não dispõem de água potável.
A crise se agravou no sábado passado, quando foram registrados dois casos positivos de cólera, que se elevaram a 13 no dia seguinte, assim como cerca de mil pessoas com graves diarréias – com pelo menos sete mortes-, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
A cidade de Kagunga, que é o principal ponto de entrada dos refugiados, não permite uma fácil realocação dos burundineses para o campo de refugiados de Nyarugusu, na região de Kigoma.
Para transportar os refugiados seria necessário dispor de mais embarcações, já que as duas que funcionam atualmente só podem transportar mil refugiados por dia.
No entanto, o campo de refugiados de Nyarugusu também alcançou seu umbral de residentes, de modo que os solicitantes de asilo estão sendo hospedados em escolas locais à espera de obter mais tendas de campanha temporárias.
Outro lugar que poderia ser habilitado para receber estas pessoas é o Estádio Lago Tanganica, na cidade de Kigoma, mas ainda necessita de muito equipamento, segundo a OMS.
À carência de infraestruturas se une a falta de pessoal médico e de remédios e provisões essenciais, lamentou a OMS.
A fuga dos burundineses começou no começo de abril, antes inclusive do presidente Nkurunziza anunciar que voltaria a se candidatar às eleições presidenciais de junho para optar a um terceiro mandato, excedendo os limites previstos na Constituição.
Esta decisão levou milhares de burundineses às ruas, em protestos violentos que deixaram pelo menos 20 mortos, e precipitou uma tentativa de golpe de Estado que fracassou na quinta-feira passada ao ser reprimido pelos setores do Exército leais ao governo. EFE
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