Telemedicina encurta distância entre pacientes e especialistas em Sergipe

  • Por Agencia EFE
  • 19/02/2014 17h22

Cecília Malavoglia.

Lagarto/Aracaju, 19 fev (EFE).- Atendimentos por meio de videoconferência podem ajudar no diagnóstico de pacientes que vivem em regiões carentes e dar mais agilidade à população e eficiência nos tratamentos, como visa a telemedicina, uma proposta de consulta à distância que foi implantada no interior de Sergipe com suporte de médicos especialistas da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Em Lagarto, cidade de cem mil habitantes, cerca de um quarto da população tem entre zero e 14 anos, e há somente cinco médicos, um deles pediatra. Agora as crianças que precisarem de consulta especializada, tanto de pediatras como de pneumologistas, gastroenterologistas, ortopedistas, têm a possibilidade de realizar a avaliação clínica com um dos médicos do hospital universitário, em parceria com o médico generalista no próprio posto de saúde, sem precisar se deslocar até a capital, Aracaju, distante 82 quilômetros.

A telemedicina oferece um contato direto e em alta resolução entre os pacientes do interior e especialistas do Hospital Universitário da UFS. Atualmente implantado em Lagarto e Tobias Barreto, o projeto é uma iniciativa da Cisco Systems, multinacional de tecnologia em telecomunicações, e da UFS.

Neste piloto (o atendimento por telemedicina é inédito no Brasil e só existem iniciativas isoladas na América Latina), são responsáveis por encurtar distâncias quatro salas de telepresença compostas por imensos monitores de alta resolução e câmeras que dão uma visão detalhada do outro ambiente, além de seis equipamentos móveis para os consultórios, que podem acompanhar o médico por diferentes salas de exames, e ferramentas de comunicação e de armazenamento em nuvem.

Bruna dos Santos, de 10 anos, foi a primeira paciente atendida por meio do novo sistema em Lagarto. Moradora da zona rural, ela foi diagnosticada com asma pela pediatra Sílvia Simões, de Aracaju. O clínico-geral do posto de saúde em Lagarto, Yoel Arano, tinha dúvidas sobre o melhor tratamento para a menina. E agendou o contato com a especialista para debaterem juntos qual a melhor condução para o caso.

Para Yoel, médico generalista cubano que há três meses trabalha na cidade dentro do programa Mais Médicos, o recurso de telemedicina é também uma aprendizagem. “Ajuda nos próximos atendimentos, é um intercâmbio especial que auxilia quem está no interior, e torna mais rápido e efetivo o tratamento, reduzindo a necessidade de deslocamentos para a capital”, disse.

Não precisar viajar para uma consulta médica diminui o custo financeiro para as famílias e para o sistema público de saúde. A telemedicina permite que os médicos interajam em tempo real em exames e observações clínicas, e discutam caso a caso. A consulta é sempre realizada por dois profissionais, um no local com o paciente e outro no HU em Sergipe.

Para Rodrigo Dientermann, presidente da Cisco no Brasil, a tecnologia tem a capacidade de transformar a sociedade. “É uma maneira de levar o especialista para o interior, a tecnologia ajudando a mudar paradigmas no processo, aumentando a qualidade do serviço e diminuindo custos”, afirmou.

A pediatria foi a especialidade escolhida para o início do projeto por ter uma defasagem no número de profissionais, especialmente fora dos principais centros urbanos. E nem mesmo a falta de contato direto, segundo os envolvidos no projeto, prejudica o diagnóstico em atendimentos delicados como o de crianças, já que a interação entre dois médicos e a mãe faz a compensação.

“O único aspecto insubstituível é a questão afetiva, tão importante na relação com as crianças, mas o debate na consulta, uma anamnese detalhada com a mãe e com a criança, essa segunda opinião médica dá inclusive mais segurança na condução do tratamento para todos os envolvidos”, disse Sílvia Simões.

Josefa dos Santos, mãe de Bruna, gostou da novidade. Ela acredita que a iniciativa vai ajudar a reduzir as filas no posto de saúde de Lagarto. “Fiquei muito tranquila com o procedimento, com os médicos, de não precisar ir até Aracaju”.

A mãe da paciente, no entanto, admite que ainda vai levar um tempo até as pessoas se acostumarem. “Tem gente desconfiada de ser atendida pela TV, né? Mas é a tecnologia, a gente não pode fugir dela, e essa serve só para ajudar”, argumentou.

A parceria da Cisco com a Universidade Federal de Sergipe, de acordo com o reitor Angelo Antoniolli, ajuda a consolidar a premissa da instituição de contribuir para uma sociedade melhor.

“Faz parte das atribuições da universidade contribuir com o desenvolvimento social, para melhorar a vida das pessoas. Não é apenas a possibilidade de uso de tecnologia, é colocar os melhores quadros da universidade à serviço da população, aplicar conhecimento”, afirmou.

O ganho para a saúde pública é notável, segundo a secretária de Saúde de Sergipe, que ainda ressaltou o impacto do projeto de telemedicina em duas questões fundamentais para a logística da saúde pública.

“Otimiza a logística de transporte de pacientes e a necessidade especializada em cada cidade, aumenta a produtividade e reduz custos. É vitorioso ver a telemedicina ser implantada em Sergipe, em cidades como Lagarto e Tobias Barreto”, disse.

A estimativa neste momento, a partir da implantação, é que sejam realizados 12 atendimentos semanais por telemedicina em cada cidade, dentro dos 50 infantis que são realizados por semana, em média.

No futuro, a telemedicina pode ser utilizada para a capacitação de profissionais, acompanhamento de pacientes de alta complexidade já em tratamento, e em outras faixas etárias da população.

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