Temor de chuvas paira sobre festas de fim de ano dos deslocados de Assunção
María Sanz.
Assunção, 25 dez (EFE).- O temor de novas chuvas e de Natais estragados pela água paira sobre as festas de final de anos das 17.500 pessoas, segundo estimativas oficiais, que vivem em precários assentamentos da Grande Assunção desde que a cheia do rio Paraguai alagou seus lares há quase meio ano.
Os deslocados são parte das 75.000 pessoas que em junho abandonaram suas casas devido ao aumento do nível do rio, e que não puderam retornar devido ao fato de que suas residências seguem danificadas ou inundadas.
Se instalaram então em espaços proporcionados pelo governo, que lhes facilitou também a madeira e o zinco com o qual construíram as frágeis casinhas nas quais vivem atualmente.
Um desses assentamentos é o que fica na frente de El Cabido, o histórico edifício que se destaca no eixo de fundação da capital paraguaia.
As famílias que ali residem estão pendentes da chegada de El Niño, fenômeno climático que se desencadeia desde meados de dezembro e que poderia acarretar novas tempestades e o transbordamento do rio Paraguai, cujo leito corre próximo às casas que deixaram.
“Começou o verão e já veio com chuvas. Janeiro nos dá medo, que é quando vêm as maiores enchentes do rio”, contou Rosalía Riva, que vive em uma casinha localizada a poucos metros de El Cabido.
Não é a primeira vez que Rosalía passa o Natal como evacuada: em 1987 já celebrou a data fora de seu lar, no bairro próximo de Chacarita, porque sua casa estava cheia de água, relatou.
Não muito longe de El Cabido está o Congresso da nação, em cujo rádio também se abrigam dezenas de famílias de deslocados.
Nesse moderno edifício de vidros espelhados se reflete a paupérrima casa de Yanina Melgarejo, que se esforça para tirar a água e o barro deixados em sua porta pela tempestade do domingo passado.
Yanina está grávida e ela gostaria que a criança nascesse já em sua casa, longe do assentamento, embora não se atreva a marcar uma data para o retorno ao lar.
Seus três sobrinhos, Ronaldo, Matías e Samira, aproveitam as recém chegadas férias escolares para brincar entre os porcos e as galinhas que convivem com as famílias, alguns dos quais, como comenta Yanina, serão sacrificados para as refeições de final de ano.
Do outro lado da rua, em um espaço onde se constrói a futura sede da Biblioteca e Arquivo Central do Congresso Nacional e que serve de estacionamento aos legisladores, trabalha e vive Melanio Mattesich.
Esse homem se dedica a estacionar, limpar e vigiar os veículos de senadores, deputados e funcionários do Congresso que estacionam no local, colado a sua casa.
“Eles deixam seus carros aqui e me dão alguma gorjeta, e com isso vivemos. Eu tenho quatro filhos, todos estudantes, e eu sou seu pai e sua mãe”, contou Mattesich.
O conjunto de pessoas que ainda permanecem deslocadas se repartem ao longo de 12 quilômetros de assentamentos que formam uma “ferradura” ao redor da Grande Assunção, detalhou à Agência Efe o diretor de operações da Secretaria de Emergência Nacional (SEN), Aldo Zaldívar.
O técnico explicou que muitas famílias retornaram a suas casas nos últimos meses já que “o nível do rio Paraguai em sua passagem por Assunção desceu ostensivamente” desde que em julho alcançou seu pico máximo, com uma altura de 7,38 metros.
No entanto, e embora o nível do rio esteja agora nos 4,8 metros, Zaldivar advertiu que supera o previsto para esta época do ano, que deveria ser inferior aos três metros.
A esta situação se soma a “elevada probabilidade” da chegada do fenômeno El Niño em forma grave, com chuvas intensas, indicou Zaldívar.
“O rio poderia voltar a elevar-se até os oito metros de altura, com o que em meados de 2015 poderíamos ter uma situação exatamente igual à do ano passado”, previu.
Por isso, a recomendação da SEN às famílias afetadas é que ocupem os mesmos lugares nos quais estão agora, fora das áreas inundáveis.
O organismo estatal se compromete a proporcionar-lhes água, saneamento, alimentos, serviços sanitários e energia elétrica durante o tempo que estejam evacuados, inclusive o Natal e o Ano Novo. EFE
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