Tensões entre Rússia e Polônia turvam aniversário de libertação de Auschwitz

  • Por Agencia EFE
  • 27/01/2015 10h29

Nacho Temiño.

Varsóvia, 27 jan (EFE).- Nesta terça-feira, 27 de janeiro, completa-se o 70º aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, data que em todo o mundo lembra o drama vivido por milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial e que neste ano chega precedido pelas tensões entre Rússia e Polônia.

Segundo historiadores, 90% das vítimas de Auschwitz, assassinadas pelos nazistas alemães com gás Zyklon B e depois incineradas, eram judeus procedentes de toda a Europa, e o restante partisans poloneses, ciganos, homossexuais e presos soviéticos.

Em 26 de janeiro de 2007, a Assembleia Geral da ONU adotou a resolução 61/255, que condena a negação do Holocausto e definiu a data da libertação do campo de extermínio como o Dia Internacional de Comemoração do Holocausto, para que a “solução final nazista para o problema judeu” nunca seja esquecida.

A data deveria servir para que os países esquecessem pelo menos por um dia suas diferenças e promovessem o entendimento e o diálogo, mas o 70º aniversário da libertação de Auschwitz chega envolvido na polêmica causada pela ausência do presidente da Rússia, Vladimir Putin.

O chefe do Kremlin não estará nos atos organizados no antigo campo de extermínio alegando não ter sido convidado.

Auschwitz fica na cidade polonesa de Oswiecin (a cerca de 50 quilômetros da Cracóvia), e são os diretores do museu-memorial no qual se transformou o campo de extermínio os responsáveis por organizar os eventos e enviar os convites.

As relações entre Polônia e Rússia atravessam seu pior momento nas últimas décadas em função da crise da Ucrânia, mas o museu assegura que foram encaminhados convites gerais a todos os países da União Europeia e nações que fornecem recusos para a manutenção de Auschwitz, incluindo a Rússia.

Já confirmaram presença pelo menos 11 presidentes, entre eles os de França (François Hollande), Alemanha (Joachim Gauck) e Ucrânia (Petro Poroshenko).

A Rússia estará representada por seu vice-primeiro-ministro, Sergei Ivanov e terá uma delegação de pequeno porte, ainda mais se for levado em conta que em 27 de janeiro de 1945 foram as tropas soviéticas que libertaram Auschwitz-Birkenau.

O campo já tinha sido abandonado pelas autoridades nazistas e era povoado apenas por centenas de prisioneiros remanescentes que aguardavam pacientemente a chegada da morte por inanição e frio.

Tropas soviéticas, sim, mas “soldados ucranianos”, ponderou dias atrás o ministro das Relações Exteriores da Polônia, Grzegorz Schetyna, jogando assim mais lenha na fogueira das já combalidas relações russo-polonesas.

Schetyna não demorou a ser respondido pelo Kremlin, que lamentou suas palavras por menosprezar o papel do Exército Vermelho na libertação do campo de extermínio e acusou a Polônia de pretender reescrever a história.

Trata-se de mais um episódio de conflito entre os dois países, que sequer se permitem uma trégua em uma data que deveria lembrar à humanidade o preço da barbárie e do ódio.

Hoje, Auschwitz-Birnkenau é patrimônio da Humanidade da Unesco e um museu-memorial que a cada ano é visitado por mais de um milhão de pessoas, sobretudo jovens que mantêm um silêncio pesado ao entrar no campo e deixar para trás a placa: “O trabalho nos torna livres”.

O museu é testemunho vivo do horror de 200 hectares, mais de 150 edifícios e uma quantidade incrível de documentos e outros objetos que comprovam os crimes cometidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. EFE

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