Terapeutas trabalham em Gaza para curar feridas psicológicas do conflito
Saud Abu Ramadan.
Gaza, 12 ago (EFE).- Várias crianças se reúnem no pátio de uma escola-albergue em Gaza, mas não para brincar ou se divertir, e sim para serem atendidas por um grupo de psicoterapeutas que se encontram no local para tratar o estresse e o medo dos menores.
Quando Israel lançou sua ofensiva sobre a Faixa há mais de um mês, a agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) habilitou a maioria de suas escolas na região para oferecer refúgio a cerca de 200 mil pessoas que foram obrigadas a abandonar seus lares, muitos agora destruídos ou seriamente danificados pelos bombardeios aéreos e ataques da artilharia israelense.
Assustados com toda violência, as crianças que foram amparadas nestas escolas-albergue passam grande parte de seu tempo com psicoterapeutas, que lhes ajudam a desenhar e a contar histórias como parte de um tratamento para minimizar o estresse e a tensão.
Estes especialistas também são palestinos e vivem em Gaza, homens e mulheres que, de maneira voluntaria, decidiram ajudar os demais com seus conhecimentos em educação e psicologia para tratar crianças em períodos de crise.
Os psicoterapeutas não só devem manter os pequenos entretidos, mas também devem ajudá-los a superar os temores relacionados à perda de seus lares e familiares.
Segundo estes especialistas, em uma situação de conflito, o medo e o deslocamento forçado afetam muito o lado psicológico, especialmente dos menores, provocando, entre outros efeitos, alterações do sono e pesadelos noturnos.
Diante desse contexto, várias agências da ONU reiteraram em múltiplas ocasiões sua preocupação sobre o futuro destas crianças e cifram em cerca de 400 mil aqueles que necessitam receber tratamento psicológico para atenuar as sequelas do conflito.
Ahmed Badder, que presta socorro psicológico “de emergência” aos menores, assegura que todos os voluntários estão se esforçando ao máximo para dar o melhor atendimento aos menores.
“Estamos divididos e cada grupo vai a uma escola ou a um hospital”, explicou Badder, que acrescentou que “essa missão se torna ainda mais complicada pelo fato de muitos deles terem perdido seus pais, irmãos e amigos”.
A parte mais complicada, segundo este voluntário, “é quando eles perguntam onde estão seus pais, para onde foram ou quem os levou. Neste caso, tentamos fazer com que eles esqueçam essa preocupação progressivamente e se adaptem, pouco a pouco, a sua nova situação”.
Esta tragédia se estende por toda Gaza, onde em cada casa e em cada família há uma história para contar nesse sentido, principalmente após mais de um mês de intensos bombardeios.
De acordo com o Ministério da Saúde em Gaza, aproximadamente 430 crianças morreram e cerca de três mil ficaram feridas durante a operação que, no total, fez quase duas mil vítimas.
No entanto, para muitos, os brinquedos, os jogos e as histórias não são suficiente. Bashir Idhair, por exemplo, tem sete anos e perdeu tudo, incluindo a sua família, em um bombardeio sobre sua casa em Rafah, no sul de Gaza.
No hospital de Shifa, também atacado durante o conflito, Bashir não para de chorar e chamar por sua mãe. Sobrevivente de um bombardeio aéreo, o jovem agora precisa contar com qualquer familiar próximo que possa ajudá-lo.
Seu tio, Khalil Idhair, afirma que nem mesmo os tratamentos mais modernos são capazes de curar suas feridas, tendo em vista que Bashir deseja, “desde o mais profundo de seu ser”, estar morto junto com sua família em vez de viver o resto de seus dias sem eles”.
O doutor em Psicologia da Universidade de Al-Aqsa, Derdah Al Shaler, afirma que as crianças locais foram expostas a uma grande dor física e psicológica durante a ofensiva.
“Os dados são sábios, mas são limitados, já que seria impossível quantificar os casos de danos psicológicos. Em uma situação como esta, posso dizer que a grande maioria dos menores de 18 anos atravessa um período de problemas psicológicos devido aos ataques israelenses sobre Gaza”, concluiu Al Shaler. EFE
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