Teste 3 em 1 do Aedes aegypti já está atrasado em mais de três meses

  • Por Estadão Conteúdo
  • 07/05/2016 10h45
O Ministério da Saúde confirmou a terceira morte provocada pelo zika em adultos no Brasil. Foto: Fernanda Carvalho/ FotosP Públicas Fernanda Carvalho / Fotos Públicas Aedes aegypti

Anunciado em janeiro como um grande trunfo para o diagnóstico rápido de zika, chikungunya e dengue, o kit três em um desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz ainda não foi distribuído para laboratórios públicos.

O atraso de mais de três meses no cronograma apresentado com orgulho pelo ex-ministro da Saúde Marcelo Castro é fruto de uma decisão – considerada para alguns, como óbvia – de que a ferramenta, antes de ser colocada em uso, precisa de registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Não era esse o acordo inicial”, afirmou o vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rodrigo Stabeli. Ele argumenta que o produto não seria usado com fins lucrativos e, por isso, dispensaria tal exigência.

A mudança na orientação aconteceu depois de o Ministério da Saúde divulgar a compra e a distribuição de 500 mil exames ainda neste ano. A ideia inicial era de que os primeiros lotes estariam disponíveis na rede pública já em fevereiro. A notícia na época foi considerada como um alento, sobretudo diante do aumento de casos de microcefalia e zika no País. O kit, dizia Castro, além de fornecer resultado do teste em três horas era significativamente mais barato. Pelos métodos tradicionais, reagentes importados custam entre R$ 800 e R$ 2 mil. Com o novo kit, o custo será de R$ 80.

Stabeli afirma que, se tudo correr como o previsto, o kit será liberado pela Anvisa no fim deste mês – para isso, seria necessário que a análise fosse feita em 15 dias. “Temos a previsão de que isso será possível.” O vice-presidente da Fiocruz avalia que, com a exigência imposta, tempo foi perdido. “Perdeu-se uma oportunidade de se usar o produto quando ele era mais necessário”, avalia.

O Ministério da Saúde, no entanto, afirma que a exigência de registro na Anvisa não poderia ser dispensada. O diretor de Vigilância das Doenças Transmissíveis da pasta, Cláudio Maierovitch, diz que o registro não é mera formalidade, mas garantia sobre a qualidade do resultado obtido.

Testes realizados atualmente para diagnóstico de zika são feitos praticamente de forma artesanal. Os exames procuram identificar fragmentos do vírus em amostras coletadas de pacientes com a suspeita da infecção. A qualidade dos testes é assegurada por equipes dos laboratórios encarregados.

Maierovitch compara o teste com a preparação de um bolo. O exame atualmente usado é como um prato feito artesanalmente, onde a equipe é encarregada de fazer a mistura dos reagentes, de fiscalizar cada etapa até o resultado final. “O kit é diferente. É como uma mistura para bolo de caixinha. Ela já vem pronta. Quem o prepara não sabe quantos ovos foram usados, quanto de farinha e tem pouca interferência sobre a qualidade final do produto. Daí a necessidade de se fazer uma verificação prévia, na Anvisa, para assegurar que todos tenham acesso a um produto adequado”, comparou Maierovitch.

Técnicos da Anvisa ouvidos pelo Estado disseram que, desde o anúncio em janeiro, já estava claro que o kit deveria ser avaliado pela agência. Na época, classificaram o evento como uma comemoração para uma promessa, não para um fato. De acordo com técnicos, houve otimismo de sobra e precaução de menos.

*As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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