Tobruk rejeita emendas de Trípoli e afunda esperanças de acordo na Líbia
Trípoli, 15 set (EFE).- O parlamento de Tobruk, governo líbio reconhecido pela comunidade internacional, rejeitou nesta terça-feira as emendas propostas pelo Executivo de Trípoli ao plano apresentado pela ONU e ordenou sua delegação abandonar as negociações na cidade marroquina de Sjirat.
A rejeição é anunciada cinco dias antes do fim do prazo dado pelo enviado especial da ONU para a Líbia, Bernardino León, e representa um duro golpe para as esperanças de chegar a um acordo político na Líbia antes do fim do mês.
Após evitar durante semanas as propostas de Trípoli, o diplomata espanhol tinha decidido no fim de semana passado mudar a estratégia e instar Tobruk a aceitá-las, decisão que acendeu os ânimos do governo reconhecido.
“Tobruk não se opõe ao acordo já assinado em julho, só rejeita as emendas propostas”, confirmou em entrevista coletiva o porta-voz do citado parlamento, Faraj Buhasahim
“Em particular, o parlamento rejeita a emenda que pede que os chefes do exército líbio (leal a Tobruk), os generais Khalifa Hafter e Abdul Razak Nazhuri, sejam substituídos”, explicou Buhasahim, que falou junto ao presidente da câmara, Ageela Salah Gwaider.
O parlamento reconhecido rubricou no último mês de julho um plano de paz apresentado pela ONU que propõe criar um governo de união nacional transitório que estabilize a situação política e convoque novas eleições.
O acordo foi rejeitado por Trípoli, mas assinado por algumas das milícias do oeste do país.
A decisão do parlamento de Tobruk devolve a situação a um ponto morto e dissipa as esperanças de León de assinar um acordo antes de 20 de setembro.
Além disso, coloca as negociações à beira do abismo, já que o mandato do parlamento reconhecido de Tobruk conclui no próximo dia 20 de outubro.
Nesta conjuntura, especialistas e analistas advertem que crescem as possibilidades que, sem solução política à vista, a opção militar pregada por atores como o próprio Hafter ganhe força.
Os mesmos analistas advertiram que o plano da ONU estava bem encaminhado no terreno político, mas era extremamente frágil porque não abordava de forma realista o problema do controle das dezenas de milícias que pululam pelo país.
A Líbia é vítima do caos e da guerra civil desde que, em 2011, forças rebeldes apoiadas militarmente pela comunidade internacional conseguiram derrubar o regime tirânico de Muammar Kadafi.
Desde então, o país está dividido, com um governo rebelde em Trípoli e outro internacionalmente reconhecido em Tobruk, que lutam pelo controle dos recursos naturais apoiados por membros do antigo regime, islamitas, líderes tribais e senhores da guerra.
O enfrentamento é aproveitado por diferentes grupos jihadistas, que nos últimos meses ganharam terreno, poder e influência e estenderam assim a instabilidade e a insegurança por todo o norte da África. EFE
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