“Tragédia”: os quadros de cabeças degoladas para denunciar os jihadistas

  • Por Agencia EFE
  • 20/09/2015 07h20
EFE/Jorge Fuentelsaz Exposição em Damasco retrata cabeças cortadas para expor horrores do Estado Islâmico

A estudante síria Ola Dabul é baixinha e de poucas palavras e acaba de se formar na Faculdade de Belas Artes de Damasco com o trabalho “Tragédia”, no qual com 15 quadros de cabeças cortadas ela quer mostrar sua rejeição às decapitações executadas pelos jihadistas.

“Nos últimos cinco anos, vimos a imprensa noticiando coisas cada vez mais escabrosas”, disse à Agência Efe Ola, após defender seu trabalho na universidade.

Os jihadistas do grupo Estado Islâmico colocaram o país em uma espiral de assassinatos macabros, que gravam e divulgam como se fosse um filme, a fim de conseguir mais adesões e divulgar o terror. Assim, os terroristas mostraram vídeos de decapitações, mortes por afogamento, fuzilamentos e pessoas queimadas vivas.

A jovem, cujo país está imerso em uma guerra civil que já dura mais de quatro anos e meio e que deixou mais de 200 mil pessoas mortas, tem um trabalho simples, direto e não pretende provocar a mesma repulsa que as imagens divulgadas pelo EI, que, no meio do ano passado, proclamou um califado nos vastos territórios que controla, nos quais impõe com intransigência suas ideias do islã.

A artista, que apresentou as obras como projeto fim de curso na especialidade de Pintura e Fotografia, relata que a série, que produziu em cinco meses, se divide em duas partes. Na primeira usou apenas três cores: amarelo, branco e preto. Na segunda, se abriu a outros tons “quentes” após vários testes.

“São cores vivas que correspondiam ao tema das cabeças cortadas. Queria cores fortes, mas não cores diretas. Por exemplo, não queria utilizar o vermelho diretamente para mostrar o sangue, mas algo mais suave”, comentou.

As obras mostram cabeças sozinhas, amontoadas, abandonadas, algumas lembrando as antigas máscaras da tragédia grega e outras ainda conservando um olhar vivo.

“Queria apresentar o meu ponto de vista sobre este tema. O soldado luta com sua arma, o jornalista com sua caneta e eu quis me expressar com a arte”, esclareceu a jovem pintora.

Tudo começou quando ela pintou o primeiro quadro: cabeças espalhadas pelo chão. “Este é o primeiro trabalho que eu fiz como teste e ficou bom”, contou orgulhosa.

Após realizar a defesa perante a banca, ela recebeu os parabéns dos membros e vários elogios do grupo. A apresentação contou com a presença da família de Ola, incluindo sua irmã Manar, que há poucos meses retornou à Síria após passar vários anos em Granada, na Espanha, onde fez um curso de tradução.

Como ainda não possui um emprego fixo, aceitou a encomenda de uma produtora para traduzir ao dialeto sírio a série de TV “El Internado”. Já Ola, ainda emocionada, espera poder expor seu trabalho em alguma galeria de arte de Damasco.

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