Tribunal argentino condena ex-ditador Bignone em “julgamento dos operários”
Buenos Aires, 7 out (EFE).- Um tribunal da Argentina condenou nesta terça-feira a 23 anos de prisão o ex-ditador Reynaldo Bignone por crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura militar dos quais foram vítimas operários da periferia norte de Buenos Aires.
Ao dar seu veredicto no chamado “julgamento dos operários”, o Tribunal Oral Federal 1 da cidade na província de Buenos Aires de San Martín condenou também outros três ex-miliares, um ex-agente da guarda-costeira e um ex-policial, com penas que vão de nove anos de prisão até a prisão perpétua, e absolveu três ex-prefeitos.
Esta é a quarta condenação de Bignone, de 86 anos, o último presidente de fato da Argentina (1982-1983).
Além dele, o ex-general Santiago Omar Riveros foi condenado à prisão perpétua, enquanto os também ex-militares Luis Sadi Pepa e Eugenio Guañabens Perelló foram sentenciados a 17 e 16 anos de reclusão, respectivamente.
O tribunal sentenciou a 9 anos de prisão o ex-chefe policial Juan Demetrio Luna e o ex-agente guarda-costeira Juan Carlos Gerardi, mas absolveu os outros três ex-prefeitos acusados, Roberto Julio Rossin, Héctor Omar Maldonado e Alejandro Portas.
Antes da leitura do veredicto, o tribunal deu aos acusados a possibilidade de fazer considerações finais, direito do qual só fizeram uso os quatro ex-prefeitos.
Gerardi afirmou que só cumpria tarefas de inteligência dentro da “luta contra a subversão” e pediu desculpas às famílias dos desaparecidos, enquanto Rossin afirmou que só faziam “guardas e obedecer ordens”.
Por sua vez, Maldonado disse que jamais torturou alguém e que, apesar de saber que seria detido, se apresentou à Justiça, enquanto Portas alegou que obedecia ordens.
No processo, que tinha sido iniciado em julho, foram julgados crimes contra 60 vítimas, trabalhadores dos estaleiros Astarsa e Mestrina, das fábricas de cerâmicas Lozadur e Cattáneo e da metalúrgica Bopavi, na periferia norte de buenos Aires.
As vítimas foram em sua maioria delegados sindicais, 28 deles sequestrados e torturados, e outros 32, além disso, desaparecidos durante a ditadura.
Segundo o advogado peticionista Ciro Annicchiarico, da Secretaria de Direitos Humanos da Argentina, as vítimas “eram todos trabalhadores, a maioria delegados sem militância política partidária, muito menos em uma organização armada, que foram perseguidos por sua condição de militantes associados”.
“O objetivo era desativar reivindicações sindicais com uma finalidade econômica em benefício das empresas privadas”, afirmou.
Fora desta causa ficaram os sequestros de trabalhadores da fábrica de automóveis da Ford, caso pelo qual são acusados, entre outras pessoas, três ex-diretores da companhia, que serão eixo de outro julgamento.
Durante este processo, tanto a promotoria como os advogados peticionistas solicitaram que, além de julgar os ex-militares e ex-prefeitos, fosse averiguada a responsabilidade empresarial nos crimes contra a humanidade nas fábricas.
O chamado “julgamento dos operários” foi o 11º da “megacausa” de Campo de Maio, guarnição militar da periferia de Buenos Aires sob o comando de Bignone e em cuja órbita foram cometidos múltiplos crimes contra a humanidade.
Bignone já tinha sido condenado à prisão perpétua pelo sequestro e homicídio do militante peronista Gastón Goncálvez, e o sequestro do ex-deputado Diego Muñiz Barreto, que morreu em um acidente forjado.
Além disso, ele foi sentenciado a 25 anos de prisão por diversos sequestros entre 1976 e 1978, quando trabalhava no Campo de Maio, e recebeu outra pena de 25 anos pelo roubo de bebês nascidos quando suas mães estavam prisioneiras em centros clandestinos de detenção. EFE
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