Tribunal indiano proíbe exibição de documentário sobre estupro

  • Por Agencia EFE
  • 04/03/2015 10h30

Nova Délhi, 4 mar (EFE).- Um tribunal de Nova Délhi proibiu na Índia a exibição de um documentário sobre o estupro e a morte de uma jovem em 2012, que inclui uma entrevista na qual um dos condenados culpa a vítima pelo incidente.

Em uma decisão divulgada na noite de terça-feira, horas depois que a polícia da capital apresentou uma denúncia, o tribunal afirmou que a reportagem “Filha da Índia” contém declarações com “dano público, quebra a paz e cria possíveis tensões e problemas de ordem pública”, disse o porta-voz policial Rajan Bhagat.

“O documentário não pode ser mostrado na Índia”, afirmou Bhagat.

O Ministério de Informação e Transmissões indiano também emitiu uma ordem aos canais de televisão do país para que não exibam o filme, de acordo com a agência indiana “ANI”.

Na noite do dia 16 de dezembro de 2012, uma estudante que estava acompanhada por um jovem foi estuprada e torturada por seis homens em um ônibus em Nova Délhi. A garota morreu 13 dias depois em um hospital de Cingapura. O caso comoveu o país e provocou protestos sem precedentes no país.

“Filha da Índia”, gravado pela britânica Leslee Udwin, será exibido pela “BBC” no dia 8 de março, coincidindo com o Dia Internacional da Mulher. O documentário seria mostrado no país asiático pelo canal indiano “NDTV”.

No entanto, o conteúdo da entrevista com um dos condenados à morte pelo caso, Mukesh Singh, foi divulgado antes da exibição pela “BBC” e criou uma grande polêmica no país asiático.

“Quando está sendo estuprada, ela não deve lutar. Ela deve apenas ficar em silêncio e permitir o estupro. Então, eles teriam deixado ela depois (do estupro) e apenas teriam espancado o menino”, declarou Singh na entrevista, filmada na prisão.

O condenado comentou que uma mulher “decente” não anda pela rua às 21h e que uma menina é “muito mais responsável” por um estupro que um homem, de acordo com os fragmentos da entrevista divulgados pelo canal britânico.

As declarações de Singh, que conduzia o ônibus onde ocorreu o estupro, provocaram a revolta entre os ativistas pelos direitos da mulher.

O documentário “é intolerável para mulheres como eu, que lutamos contra a misoginia a cada dia”, escreveu a diretora do Centro de Pesquisa Social de Nova Délhi, Ranjana Kumari, em sua conta no Twitter.

A ativista acusou a “BBC” de ser irresponsável pela produção da entrevista e se perguntou: “Fariam o mesmo em seu país?”.

Udwin defendeu a produção da entrevista, o que classificou como “uma séria campanha pelo interesse público”, segundo a agência local “PTI”.

“Levamos muito tempo para fazer o filme, quase dois anos. Se quiséssemos fazer algo sensacionalista, teríamos exibido imediatamente. Não há nada de sensacionalista no filme”, disse Udwin.

O estupro e a morte da jovem, em 2012, provocou protestos pela situação da mulher sem precedentes no país asiático e forçou o governo a endurecer as penas por crimes sexuais.

Singh foi condenado à morte por esse caso em setembro de 2013, junto a outros três acusados. Outro deles, menor de idade, foi condenado a três anos em um centro específico e um sexto apareceu morto em sua cela. EFE

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