Trono yakuza é mantido com um século de sangue e negócios

  • Por Agencia EFE
  • 26/01/2015 06h29
  • BlueSky

Antonio Hermosín.

Tóquio, 26 jan (EFE).- O grupo yakusa Yamaguchi-gumi completa um século de vida em 2015, uma longa trajetória de sangue e negócios que resultou na maior organização mafiosa do Japão e a que mais gera receita em todo o mundo.

Fundado em 1915, o grupo conta com cerca de 20 mil integrantes e fatura US$ 80 bilhões anualmente.

Os “sindicatos” da máfia japonesa contam com um particular status que oscila entre a semilegalidade e a clandestinidade, e hoje em dia desfrutam de um poder e uma visibilidade que seriam inconcebíveis em outros países.

Embora não sejam considerados ilegais e disponham de escritórios, sites e cartões de visita, muitas de suas atividades burlam a lei e, por isso, se tornaram alvo de uma perseguição crescente das autoridades japonesas nas últimas décadas.

A mais respeitada e temida destas organizações, a Yamaguchi-gumi, foi fundada há 100 anos no porto de Kobe (sul do Japão) por um antigo pescador, Harukichi Yamaguchi, que começou a oferecer trabalhos de porto e transporte, e em pouco tempo estendeu suas operações à proteção dos negócios locais.

Após uma década como “kumicho” (“padrinho”), Harukuchi passou a liderança do grupo para o filho Noboru, de apenas 23 anos, que apesar de jovem consolidou o controle desse porto estratégico, que também funciona como reduto de lazer à noite.

O protegido de Noboru, Kazuo Taoka, o sucedeu em 1943 para se tornar o terceiro “padrinho” da Yamaguchi-gumi e principal responsável por sua expansão até transformá-la na organização criminosa dominante no país.

Órfão desde cedo, quando adolescente se uniu à Yamaguchi e ganhou o apelido de “Kuma” (“Urso”) por arranhar os olhos de seus oponentes em brigas de rua, e seu currículo também inclui dois períodos na prisão por diversos crimes, como assassinar com uma katana o líder de uma gangue rival.

A “época dourada” da yakusa, principalmente para a Yamaguchi-gumi, começou depois da derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial.

Esses clãs, cujas origens remetem ao século XVII a partir de samurais que ficaram desempregados, assumiram diferentes funções, serviços e negócios durante o pós-guerra e o rápido crescimento econômico japonês, que abrangia desde o mercado negro e a prostituição até os setores imobiliário e financeiro.

No anos 80, a expansão se ramificou com múltiplos episódios de violência entre grupos rivais – entre eles a tentativa de assassinato de Taoka em uma boate de Kioto -, incidentes que levaram o governo a intensificar a perseguição dessas organizações.

Hoje em dia a máfia japonesa quase não protagoniza incidentes sangrentos que chegam ao conhecimento público e conta com o menor número de membros desde 1992, ano em que entrou em vigor uma conhecida lei contra o crime organizado, mas continua influente em todas as esferas da sociedade japonesa.

Yamaguchi-gumi contava em 2013 com um terço dos 58.600 membros de “boryokudan” (“grupos violentos”) em todo Japão, segundo os últimos dados da Agência Nacional de Polícia do Japão.

O faturamento milionário da organização vem principalmente do tráfico de drogas, dos “pachinko” (jogos de azar) e dos empréstimos e extorsão de negócios, segundo um estudo recente da revista “Fortune”.

Essa receita é muito maior que as das máfias russa e italiana, segundo a revista, que também ressalta a dificuldade para calcular o faturamento de atividades clandestinas.

“Trata-se do mais internacional de todos os grupos de crime organizado e sua especialidade são os crimes financeiros”, segundo o Centro de Estudos Subculturais do Japão (JSRC), uma plataforma independente de jornalismo investigativo.

Atualmente o grupo possui “centenas de companhias” de primeira linha em Tóquio e Osaka (sul do Japão) dos setores imobiliário, financeiro, de hotelaria e restauração e de entretenimento, assim como “amplas conexões” com a política japonesa, de acordo com o site da JSRC.

A palavra “yakusa” continua sendo tabu no Japão, onde muitos cidadãos evitam pronunciá-la em público e preferem manter distância de seus membros, que podem se reconhecidos por símbolos como as tradicionais tatuagens japonesas. EFE

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.