Tsipras, de revolucionário temido na Europa a fiel cumpridor do resgate

  • Por Agencia EFE
  • 18/09/2015 17h40
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Ingrid Haack.

Atenas, 18 set (EFE).- Chegou ao poder com a popularidade de uma estrela – onde quer que passasse, os cidadãos lhe aclamavam aos gritos -; porém, no cenário político europeu, o sucesso popular de Alexis Tsipras provocou alguns receios.

Oito meses depois, os cidadãos gregos têm que comparecer pela terceira vez às urnas e o encantamento do líder da colizão Syriza parece ter se desfeito devido ao duro golpe da promessa descumprida.

Longe está a imagem do “diabo” que tiraria a Grécia da zona do euro ou a transformaria em uma Coreia do Norte, como pintava a oposição conservadora, liderada pelo então primeiro-ministro Antonis Samaras.

Nos sete meses que durou seu governo, Tsipras demonstrou que sua intenção nunca foi a saída da zona do euro, como prova o fato de ter assinado um resgate que fica devendo pouco aos programas de ajuste anteriores e que provocou a ruptura de sua coalizão.

Seu rival conservador na atual corrida pela chefia de governo, Vangelis Meimarakis, chegou a dizer dele que se transformou no “menino mimado” da União Europeia após ter assinado o resgate.

Tsipras nasceu em 1974, alguns dias depois da queda da Junta dos Coronéis, que tinha oprimido seu país desde 1967.

Desde os tempos de colégio despontou como líder estudantil nos protestos contra as reformas educativas dos sucessivos governos e como militante das juventudes do poderoso Partido Comunista da Grécia (KKE), então aliado com outras forças de esquerda em uma coalizão.

A queda da União Soviética provocou uma cisão no seio do KKE, e a maioria de seus militantes abandonou esta coalizão, enquanto uma minoria permaneceu nela.

Tsipras optou por estes últimos e pela amálgama de socialistas, trotskistas, maoístas, ecologistas e outras várias famílias da dividida esquerda, que em 2004 se transformaria na Coalizão da Esquerda Radical (Syriza).

Engenheiro civil de profissão, sua carreira política começou em 2006, quando foi nomeado candidato de seu partido à prefeitura de Atenas e conseguiu 10,6% dos votos, um resultado inesperado que o levou, no início de 2008, à presidência do Synaspismos, principal componente da Syriza.

A mudança radical que deu ao discurso político de seu partido lhe custou uma cisão, no começo de 2010, da ala mais moderada, que criou outra legenda, o Dimar.

Depois das eleições de 2012, Tsipras empreendeu com sucesso o complicado trabalho de fundir as diferentes facções em um só partido.

Nesse mesmo ano começou sua ascensão fulminante, quando, para surpresa geral, seu partido, cuja influência eleitoral se situava até então entre 3% e 5%, se transformou na segunda maior força política graças a um programa de rejeição da austeridade draconiana que os credores do país tinham imposto à Grécia.

Nos dois anos e meio que se seguiram se lançou à conquista da classe média grega, que após seis anos de recessão, viu seu nível de vida afundar.

Três anos depois, o protagonista da política contra a austeridade não só se transformou em um discípulo aplicado da zona do euro, mas de unificador da Syriza passou, aos olhos de muitos, a ser o carrasco do partido.

Foi sob seu governo e sua liderança que aconteceu uma nova cisão, desta vez pela saída da facção mais radical, liderada pelo ex-ministro de Energia, Panayotis Lafazanis.

Há poucas semanas Lafazanis fundou um novo partido, o União Popular, que nas eleições do próximo domingo concorrerá como rival da Syriza, com um programa contra o resgate.

Desta vez, Tsipras já não se apresenta como o revolucionário que acabará com a austeridade ou dará marcha à ré nas privatizações, para citar alguns dos lemas de sua campanha anterior, mas como o estadista que quer dar um rosto mais humano ao programa de ajustes que acompanha o terceiro resgate. EFE

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