Tumulto na Câmara encerra sessão para relembrar 50 anos do golpe militar

  • Por Agencia EFE
  • 01/04/2014 15h06

Brasília, 1 abr (EFE).- A Câmara dos Deputados, que nesta terça-feira relembrava os 50 anos do golpe militar de 1964 em um ato solene, foi obrigada a interromper a sessão de maneira inesperada por causa de um tumulto provocado quando o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) iniciou um discurso a favor do regime militar.

Pouco antes, a sessão chegou a ser interrompida por alguns instantes quando simpatizantes do golpe estenderam na galeria do plenário uma faixa com os dizeres: “Parabéns aos militares. Graças a vocês o Brasil não é Cuba!”.

A ação foi reprendida por militantes contrários ao regime militar e houve confusão.

Bolsonaro, um ex-militar que considera os 21 anos do regime militar como uma época de “ordem e progresso”, iniciou seu discurso no plenário sob as vaias da maioria dos parlamentares, que viraram de costas para o orador e, com cartazes em punho, cantaram o Hino Nacional.

Embora o discurso de Bolsonaro estivesse previsto para durar 17 minutos, o deputado, chamado de “ditador” pelos demais, não conseguiu terminá-lo.

Em meio ao protesto dos deputados presentes, alguns com cartazes com rostos de desaparecidos e mortos durante o regime militar, o deputado Amir Lando (PMDB/RO), que presidia a sessão, pediu aos parlamentares que escutassem Bolsonaro, mesmo repudiando sua opinião.

“A democracia é assim. É conflito, é diálogo, é debate e, na democracia, todos devem ser ouvidos”, declarou Lando, que advertiu que as normas do parlamento não permitem a continuidade de uma sessão com o plenário de costas ao orador.

Como o protesto contra Bolsonaro continuou, Lando decidiu encerrar a sessão solene, convocada justamente para manifestar o “repúdio” da classe política ao golpe do 1º de abril de 1964, que derrubou o governo do então presidente João Goulart e instalou uma ditadura que se prolongou até 1985.

A sessão de hoje foi aberta pelo presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Lyra Alves (PMDB/RN), que manifestou sua rejeição a “toda tentativa de celebrar o golpe” e sancionou um decreto parlamentar que institui 2014 como o “Ano da Democracia, da Memória e do Direito à Verdade”.

Em seu discurso, Alves lembrou que, durante os 21 anos do regime militar, o Congresso foi “fechado três vezes”, em 1966, 1967 e 1977.

Em um breve repasse histórico, ele também evocou a memória de centenas de parlamentares “perseguidos” pela ditadura, daqueles que foram cassados pelo regime e de outros que foram assassinados ou torturados.

A deputada Luiza Erundina, uma das primeiras oradoras, exigiu a revisão da Lei de Anistia, elaborada pelo próprio regime militar em 1979, e cuja constitucionalidade foi referendada em 2010 pelo Supremo Tribunal Federal.

“A revisão da anistia é uma questão de respeito à dignidade humana”, declarou Erundina (PSB/SP). Segundo a deputada, em função da lei, “o direito à verdade e à justiça continuam vedados” cinco décadas depois do golpe. EFE

ed/cm

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