Tunísia comemora aniversário da revolução em reta final da transição

  • Por Agencia EFE
  • 14/01/2014 17h26

Miguel Albarracín.

Túnis. 14 jan (EFE).- Milhares de tunisianos convocados pelas principais forças políticas do país lembraram nesta terça-feira no centro da capital o terceiro aniversário da revolução que derrubou a ditadura de Zine al-Abidine Ben Ali, enquanto o país começa a encarar a reta final da transição política.

Cercados de fortes medidas de segurança e separados por cordões de isolamento policiais e grades de segurança, os simpatizantes do governo e da oposição se reuniram na avenida Habib Burguiba (a principal da capital tunisiana), para celebrar e comemorar a queda de Ben Ali, em 14 de janeiro de 2011.

Em frente ao Teatro Municipal, o partido islamita Al-Nahda, líder do governo e principal força parlamentar, discursou para seus simpatizantes, entre os quais também estavam membros da controvertida Liga Nacional para a Proteção da Revolução, à qual a oposição responsabiliza da violência contra artistas, políticos e jornalistas.

Diante de seus seguidores, o membro do comitê político de Al-Nahda, Hussein Yaziri, elogiou o trabalho do Executivo e pediu a mobilização de seus eleitores para repetir a vitória conseguida nas eleições de 2011.

“Começa uma nova fase da transição tunisiana que desembocará em eleições nas quais devemos obter uma nova maioria”, ressaltou o líder islamita, que pediu aos membros de seu partido “se aproximarem dos cidadãos e ouvi-los”.

Yaziri também aproveitou seu discurso para prestar homenagem ao exército tunisiano por ter protegido as instituições do Estado e para descartar a possibilidade de que haja um golpe de Estado militar que possa frustrar a transição, como ocorreu no Egito.

No lado oposto da avenida, milhares de tunisianos convocados por agrupamentos da oposição como Nidá Tunis e a coalizão de esquerda Frente Popular, assim como pelo sindicato União Geral de Trabalhadores Tunecinos (UGTT), se concentraram também para comemorar o aniversário.

Da tribuna, o líder da oposição e ex-primeiro-ministro transitório, Beji Caid Esebsi, criticou o atual governo liderado pelo Al-Nahda, que acusou de ter causado um “retrocesso” no país nos últimos dois anos.

Durante sua fala, Esebsi, cujo partido foi criado após as eleições de 2011, e aparece junto ao Al-Nahda como um dos favoritos nas pesquisas, também aproveitou a ocasião para convocar seus partidários às urnas.

“É agora que começa a fase séria da transição até as próximas eleições”, ressaltou Esebsi, que instou a “planejar as próximas eleições democraticamente, sem ocupar a rua de maneira violenta”.

Após longos meses de engessamento político, um acordo feito em 5 de outubro entre as forças governamentais lideradas pelo Al-Nahda e os partidos da oposição, marcou o começo de um desbloqueio político que se acelerou nas últimas semanas.

O roteiro marcado pelos vários grupos estipulava a designação de um primeiro-ministro de consenso, Mehdi Yuma, que foi eleito na última hora em dezembro, assim como a renúncia do governo do islamita Ali Laridi, que renunciou em 9 de janeiro.

No entanto, Laridi não deixou o poder até que fosse assegurado o cumprimento do resto dos compromissos do roteiro. Mais especificamente, a designação dos membros da Instância Superior Independente Eleitoral, que deverá fixar a data das eleições e supervisioná-los, e a aprovação da nova Constituição.

No dia 3 de janeiro, a Assembleia Nacional Constituinte abria sessões que continuam, para aprovar, um por um, os 146 artigos da nova Carta Magna.

Embora os legisladores não tenham conseguido concluir hoje as discussões, como tinham previsto, com a intenção de submeter a votação a Constituição em seu conjunto coincidindo com o aniversário da revolução, já foram aprovados mais de 100 artigos.

Esse novo impulso da transição, embora tenha sido freado pelas polêmicas surgidas em torno de certos artigos, como o 103, relativo à independência do Poder Judiciário, é o que impulsionou os dirigentes políticos tunisianos a introduzir em seus discursos um novo acento eleitoral.

Após um ano de crise, tanto o governo como a oposição parecem ter todas as atenções voltadas para o pleito, cuja data deverá ser fixada assim que for aprovada a nova lei fundamental que, segundo a direção do Al-Nahda, estará pronta até o final desta semana. EFE

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