Turismo mochileiro na Palestina: uma alternativa para as férias
María Sevillano.
Ramala (Cisjordânia), 24 jul (EFE).- Cada vez mais mochileiros apostam em um destino até agora pouco convencional: Ramala, onde os hotéis ajudam os corajosos viajantes a se divertir, conhecer a gastronomia e a realidade política palestina.
“Welcome to Palestine!” (“Bem-vindos à Palestina!”) é o que mais se ouve nas ruas diante da presença de um fascinado “ashnabi” (estrangeiro, em árabe) que mergulha no barulho das buzinas, na gritaria dos vendedores e no forte aroma de café.
Mochila no ombro e curiosidade a todo o vapor, eles costumam se dirigir a um dos dois modernos hotéis que nos dois últimos anos mudaram as possibilidades de hospedagem em Ramala, até então monopolizada por uma dezena de hotéis proibitivos para viajantes com pouco dinheiro.
“A cada dia, novos hóspedes são gratamente surpreendidos pela realidade da Cisjordânia e o quão diferente é de suas expectativas. Esperam ver cidades cheias de escombros com milicianos armados até os dentes, e quando encontram uma baixa criminalidade, infraestruturas relativamente modernas e pessoas amigáveis vivendo sob uma ocupação militar muito visível, tendem a questionar seus pré-julgamentos e alguns até suas crenças fundamentais”, revelou à Agência Efe Mike, coproprietário europeu do Area D Hostel, nome que faz menção às três partes (A, B e C) nas quais a Palestina é dividida em virtude do Acordo de Oslo.
O engenheiro mexicano Víctor Vilchisteria, de 28 anos, se hospedou no hostel. Desde 2013, o local se tornou o primeiro a oferecer a alternativa de hospedagem de baixo custo (R$ 34) para satisfazer as necessidades de mochileiros que, em geral, tem um orçamento apertado, vontade de explorar e estão ávidos por interações reais.
“Queria conhecer melhor a Cisjordânia, falar com as pessoas e formar uma própria opinião do que acontece para ter uma concepção integral do conflito. Acho que assim a gente humaniza o problema”, justifica ele, em uma conversa em uma das várias áreas comuns do hotel, repleto de folhetos turísticos e políticos, além de dedicatórias de visitantes de todo o mundo.
Segundo o dono palestino do hostel, Chris Alami, o perfil de Víctor coincide com o da grande maioria de turistas que chega à Cisjordânia: jovens movidos por inquietações culturais, linguísticas ou políticas.
No entanto, é cada vez mais frequente a figura do viajante que, após passar alguns dias em Israel e, apesar das advertências que recebe sobre a segurança, decide conhecer a Palestina.
“Eles estão em Jerusalém ou Tel Aviv, por exemplo, e notam que sobram alguns dias. É fácil e barato ir a Ramala. Basta pegar um ônibus em Jerusalém por 8 shekels (R$ 6), cruzar um posto de controle – que levará em média uma hora, dependendo do trânsito – e você chegará a uma terra totalmente diferente. Do ponto de vista do viajante, Ramala tem muito potencial. É divertido, barato, seguro, proporcionamos visitas culturais e políticas e tudo quase de graça”, relata Alami, satisfeito em abrir caminho e “ajudar a criar uma comunidade hosteleira (que se expande até Nablus, Jericó e Belém) que beneficie o futuro do turismo na Palestina”.
Laura, de 21 anos, participará de aulas de intercâmbio de idiomas, culinária palestina e fará saídas noturnas pelos bares de Ramala guiada pela equipe do Area D antes de continuar seu curso universitário na Suíça.
“Queria ver ambos os lados e depois não quis voltar para Israel, mas pensei: vou ter de prestar muita atenção em cada ponto de controle, mas não. Não é difícil. Pelo contrário. Viajar aqui não é um problema. Eu recomendo”, encoraja a jovem, que ressalta a hospitalidade das pessoas da região como um ponto forte.
O coproprietário do Area D destaca que os viajantes ficam encantados com as pessoas, as comidas, as vistas e a surpresa de encontrar algo inesperado, a parte mais divertida do turismo mochileiro, segundo ele.
“E diria que, o que causa mais impacto são a simpatia dos palestinos, os pontos de controle e comprovar que ninguém, apesar do que escutaram em Israel, quer fazer mal”, sentencia.
Os locais, reticentes algumas vezes ao estilo e comportamento dos estrangeiros alheios à cultura conservadora e tradicional da região, costumam mostrar a hospitalidade, principalmente, no tratamento e em geral agradecem a presença de turistas que “gastam dinheiro e veem a situação com seus próprios olhos”, diz Alami. EFE
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