Turquia está dividida sobre as causas do fracasso em diálogo de paz com o PKK
Istambul, 29 jul (EFE).- O debate desta quarta-feira no parlamento da Turquia sobre a crescente violência no país e sobre quem detém a responsabilidade pelo rompimento das negociações com a guerrilha curda do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) evidenciou a divisão existente sobre as causas do fracasso desse processo de paz após mais de dois anos de trégua.
No plenário, convocado pelo principal partido da oposição, o social-democrata CHP, para analisar as duas ofensivas militares da Turquia, contra o PKK e contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), o Executivo foi criticado por sua tolerância com esse último movimento, que proclamou um califado em partes do Iraque e da Síria.
Em um ambiente turbulento e com muitas trocas de acusações entre os quatro partidos parlamentares, foi rejeitada uma moção do CHP para criar uma comissão de investigação sobre os atos terroristas das últimas semanas, que motivaram a dupla ofensiva militar.
No último dia 20, um suicida vinculado ao Estado Islâmico assassinou 32 pessoas, a maioria ativistas de esquerda que planejavam levar ajuda humanitária para os curdos da Síria.
O PKK, que afirma que o atentado é responsabilidade de uma confusa aliança entre o governo turco e o EI, reagiu com o assassinato de policiais, o que desencadeou uma dura resposta de Ancara, com bombardeios sobre bases jihadistas e, sobretudo, da guerrilha curda.
A iniciativa parlamentar do CHP recebeu o apoio do HDP, o partido da esquerda pró-curda, que é acusado pelo governo de manter “vínculos inorgânicos” com o PKK e que conseguiu entrar no parlamento pela primeira vez, como um partido, nas eleições de junho.
No entanto, a proposta foi rejeitada com os votos do islamita AKP, que está no poder desde 2002, mas perdeu a maioria absoluta, e dos ultranacionalistas do MHP.
O porta-voz do governo, Bülent Arinç, defendeu os passos dados durante o processo de paz iniciado em 2013 e garantiu que o “ponto de ruptura” foi o confronto armado entre ativistas curdos de esquerda, ligados ao PKK, e radicais islâmicos, que deixaram dezenas de mortos em outubro do ano passado.
O governo responsabiliza o PKK pela escalada da tensão e o acusa de não ter cumprido sua promessa de retirar todas as suas forças do território turco.
Os deputados do HDP acusaram o AKP de estar disposto a “encher todo o país de corpos” para recuperar a maioria absoluta e argumentaram que a escalada de violência foi planejada como reação ao resultado eleitoral de junho.
O HDP, que ganhou eleitores entre os turcos de esquerda, além do tradicional apoio da comunidade curda, pediu tanto para a guerrilha como para o Exército turco uma trégua e que ambos retornem à mesa de negociação.
Como condições para retomar o diálogo, o HDP propôs a criação de uma comissão parlamentar e o fim do isolamento de Abdullah Öcalan, o fundador do PKK que cumpre pena de prisão perpetua desde 1999.
O CHP, por sua vez, dedicou seu discurso a destacar o perigo que o Estado Islâmico representa para a Turquia e a denunciar uma suposta passividade do governo durante os últimos dois anos com relação à ameaça dos jihadistas.
Os deputados do CHP garantiram que cerca de 10 mil cidadãos turcos “participaram da guerra ou realizaram atividades logísticas” para o Estado Islâmico devido à falta de ação do Executivo.
“Se agora vocês estão prendendo tantas pessoas, por que não as prenderam antes?”, perguntou o deputado Levent Gök, em referência à ampla operação policial que teve início na última sexta-feira e na qual foram detidas 1.302 pessoas, alguns jihadistas e a maioria acusados de ligação com o PKK.
“Agora, o governo fala que está fazendo operações aéreas (contra o EI na Síria). Mas, ao mesmo tempo, vemos na televisão como o Estado Islâmico continua ampliando suas trincheiras”, denunciou Gök.
Após um primeiro ataque aéreo de caças turcos na sexta-feira e outro no sábado, Ancara não voltou a relatar ações contra as posições do Estado Islâmico, mas prossegue, diariamente, com suas incursões contra os redutos do PKK no norte do Iraque.
Essas ações também se sucedem aos ataques da guerrilha curda nas províncias do sudeste da Turquia, onde morreram cinco membros das forças de segurança desde sábado, quando o PKK declarou formalmente o rompimento do cessar-fogo proclamado em março de 2013.
Além de sabotar um gasoduto e um oleoduto e de incendiar máquinas de obras públicas, os guerrilheiros sequestraram dois policiais que viajavam com suas famílias e atacaram vários comboios militares, delegacias e complexos de imóveis policiais.
Além dos três soldados mortos nesses ataques, um oficial de baixa categoria foi baleado na rua enquanto falava ao telefone, e outro morreu metralhado em uma emboscada ao voltar do quartel para sua casa. EFE
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