Turquia realiza eleições com tom de plebiscito sobre reforma de Erdogan

  • Por Agencia EFE
  • 05/06/2015 17h25
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Dogan Tilic.

Ancara, 5 jun (EFE).- A Turquia realizará neste domingo as eleições gerais mais incertas no país desde 2002, com possibilidade de o partido islamita Justiça e Desenvolvimento (AKP) perder sua maioria absoluta.

O pleito também é visto como uma espécie de plesbicito sobre os planos do presidente Recep Tayyip Ergodan de assumir mais poderes.

Quase 57 milhões de turcos vão às urnas em uma disputa dominada pelo processo de paz com a guerrilha curda, a crescente islamização promovida por Erdogan, a lembrança dos protestos antigovernamentais, a corrupção, o autoritarismo e a crise econômica.

As pesquisas dão ao AKP, fundado por Erdogan, entre 40% e 42% dos votos (em 2011, a legenda recebeu 49,8%). O Partido Republicano do Povo (CHP), de orientação social-democrata, ficaria com 26% da preferência do eleitorado, segundo as últimas pesquisas, e os direitistas do Ação Nacionalista (MHP) na terceira posição, com 17%.

A grande incógnita é o Partido Democrático do Povo (HDP), tradicionalmente forte nas regiões curdas e que concorre pela primeira vez com o objetivo de não só representar essa minoria, mas também ser uma opção de esquerda para todos os turcos.

Se atingir 10% dos votos em todo o país, o HDP entraria no parlamento com 50 deputados e bancada própria, o que dificultaria os planos do AKP de manter sua maioria, apesar de, ainda assim, o partido de Erdogan conseguir governar sem muitos obstáculos.

Caso o índice não seja atingido, a divisão de cadeiras pode dar ao AKP uma maioria de três quintos dos parlamentares, conseguindo votos necessários para aprovar o plesbicito de reforma constitucional defendido pelo presidente.

Essa reforma transformaria o país em praticamente um sistema presidencialista, no qual o chefe de Estado tem funções executivas. Atualmente, a Turquia adota o parlamentarismo, dando ao primeiro-ministro mais poder do que Erdogan, mesmo com seu enorme peso na vida política.

“Essas eleições também vão ter um caráter de plesbicito. As pessoas não só vão votar nos deputados que as representarão, mas também se aprovam mudar a democracia parlamentar em um sistema presidencialista à turca”, afirmou o professor de Ciências Políticas da Universidade Técnica do Oriente Médio, Tariq Sengül.

Desde que deixou o cargo de primeiro-ministro e venceu as eleições presidenciais, Erdogan não hesitou em explorar ao máximo suas funções. Inclusive presidiu de forma muito mais intensa as reuniões do Conselho de Ministros, superando todos os seus antecessores.

A atuação gerou críticas quase diárias da oposição, já que Erdogan ignorou a neutralidade do cargo, obrigatória segundo a Constituição. O presidente usou a inauguração de obras públicas para se promover e criticar seus adversários políticos. A estratégia virou até o lema do AKP nas eleições: “Eles falam, o AKP age”.

Erdogan não só foi o primeiro presidente a fazer comícios eleitorais, mas também passou a discursar com o Corão na mão, impulsionando o crescente viés religioso do partido.

“O apoio ao AKP caiu para 41% ou 42% e segue diminuindo. Erdogan usa o Corão e a religião para interromper esse processo”, disse o presidente da empresa de análise sociológica Konda, Tarhan Erdem.

Apesar de considerar que o AKP continuará como o partido mais votado, Erdem acredita ser impossível que o partido repita os mais de 49% dos votos das últimas eleições gerais.

Os escândalos de corrupção envolvendo alguns líderes do AKP também podem ter um peso no resultado eleitoral, da mesma forma que a sensação de um crescente autoritarismo por parte do governo, que acaba de aprovar leis que dão mais poder para a polícia atuar sem autorização judicial e aumentam o controle sobre a internet.

O mal-estar contra o cerceamento da liberdade aumentou em meados de 2013, através dos grandes protestos antigovernamentais de Gezi, que duraram durante semanas e serviram para formar uma inédita frente comum com turcos de esquerda, curdos, nacionalistas, feministas e homossexuais, que podem agora destinar seu voto para um partido de cunho mais progressista, como o HDP.

Outra novidade é a presença de candidatos de minorias étnicas. Espera-se, por isso, que o próximo parlamento conte com a presença da primeira deputada armênia e do primeiro parlamentar cigano. EFE

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