Ucrânia aguarda chegada de comboio russo com ajuda humanitária

  • Por Agencia EFE
  • 14/08/2014 16h03

Boris Klimenko

Kiev, 14 ago (EFE).- A Ucrânia aguarda com inquietação a chegada de um comboio russo com ajuda humanitária, já que ainda se desconhece se cruzará a fronteira por uma zona controlada pelos separatistas ou pelas forças leais a Kiev, e como será distribuída pela Cruz Vermelha.

“Entabulamos o primeiro contato com o comboio russo com a ajuda (humanitária) na região (russa) de Rostov. Ainda resta esclarecer muitos detalhes práticos”, informou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Twitter.

Aparentemente, a coluna com os 262 caminhões pintados de branco se encontra estacionada a 30 quilômetros do território ucraniano à espera de autorização para avançar rumo à fronteira.

O problema é que há dois meses várias seções da fronteira estão sob o controle das milícias pró-russas, como é o caso dos pontos de passagem de Izvarino e Dolzhanski, teoricamente os escolhidos para fazer chegar a ajuda à cidade sitiada de Lugansk.

Ao dar seu sinal verde à carga russa, Kiev adiantou, sem especificar, que o comboio cruzaria a fronteira pelo ponto mais próximo a Lugansk a fim de agilizar a distribuição da ajuda à população que carece de luz e água há duas semanas.

As autoridades ucranianas querem que, além dos funcionários de alfândegas e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, a Cruz Vermelha esteja presente durante o registro da carga humanitário russo na fronteira.

“Esperamos que a parte russa cumpra com todas estas exigências e não viole a legislação ucraniana e internacional”, assegurou Igor Lisenko, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional e Defesa, em entrevista coletiva.

Em caso contrário, acrescentou, “o avanço da coluna será freado por todas as forças que tenhamos a nosso alcance”.

Por sua parte, a Chancelaria russa pediu hoje às autoridades ucranianas e aos rebeldes pró-Rússia que declarem um cessar-fogo para garantir a segurança do comboio.

A cessação das hostilidades “é necessário para garantir a segurança da ação humanitária em andamento. A dificilíssima situação no sudeste ucraniano exige um cessar-fogo”, afirmou.

Por sua vez, a nota oficial destaca que Moscou se encontra “na fase final” dos esforços “para acordar os aspectos (logísticos) da concessão da ajuda humanitária à população do sudeste da Ucrânia”.

A Cruz Vermelha pediu à parte russa informação detalhada sobre o conteúdo dos 262 caminhões russos, que transportariam cerca de duas mil toneladas de cereais, açúcar, alimentos para crianças, remédios, sacos de dormir e geradores elétricos.

“Efetivamente, a que temos é uma lista muito geral. Para poder fazer chegar a ajuda humanitária e distribuí-la, necessitamos de uma lista muito detalhada”, disse Victoria Zotikova, porta-voz da delegação regional da Cruz Vermelha.

Representantes da organização internacional sublinharam hoje sua disposição a receber ajuda humanitária russa e transportá-la até a cidade de Lugansk através de território sob controle dos rebeldes pró-Rússia, sempre que Kiev dê seu sinal verde.

“Estamos discutindo com a parte ucraniana como realizar esta operação”, acrescentou a Cruz Vermelha em sua nota.

A Cruz Vermelha chamou ambas as partes a não politizar a ajuda humanitária para a população na zona de conflito, onde já morreram mais de 2 mil civis, cerca de 600 soldados ucranianos e um número indeterminado de milicianos rebeldes.

“A concessão da ajuda humanitária deve ser efetuada com o beneplácito de todas as partes interessadas e sob o controle do Comitê Internacional da Cruz Vermelha”, comentou a respeito Stephan Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU.

Quanto às suspeitas de que o comboio seja um pretexto para uma intervenção humanitária russa, o presidente russo, Vladimir Putin, assegurou hoje que a Rússia fará tudo o que for possível para que o conflito no leste da Ucrânia “termine o mais rápido possível”.

A Ucrânia “está em um caos sangrento, em um conflito fratricida”, e “no leste da Ucrânia ocorreu uma grande catástrofe humanitária”, destacou.

“Morreram milhares de pessoas, centenas de milhares se transformaram em refugiados e perderam literalmente tudo”, acrescentou.

Segundo uma pesquisa, a porcentagem de russos que apoiava uma invasão do país vizinho foi reduzida de 40 para 26% desde junho.

Enquanto isso, 90% seguem advogando pelo envio de ajuda humanitária para os habitantes de Donetsk e Lugansk, onde muitos habitantes abandonaram a zona com destino ao território russo, incluindo a península da Crimeia, anexada pela Rússia.EFE

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