Ucrânia cruza os dedos para que eleição seja decidida no primeiro turno
Ignacio Ortega.
Kiev, 24 mai (EFE).- A Ucrânia cruza os dedos para que no domingo haja um novo presidente, já que a realização de um segundo turno dentro de três semanas jogaria a favor do boicote dos insurgentes, que fundaram neste sábado uma nova república independente: Novorossia (Nova Rússia).
“Paremos a guerra. Elejamos o presidente no primeiro turno”, diz o cartaz da campanha do oligarca Petro Poroshenko, o grande favorito, segundo todas as pesquisas.
Poroshenko tem muitas cédulas para sair vitorioso nas presidenciais do domingo, que é o que parece desejar também o Ocidente, muito interessado em legitimar o mais rápido possível as novas autoridades ucranianas perante a ameaça russa.
A ex-primeira-ministra, Yulia Tymoshenko, fez de tudo para desafiar Poroshenko a um corpo a corpo, mas o “Rei do Chocolate”, como é conhecido o dono do império de bombons e doces Roshen, evitou o embate.
Se for necessário um segundo turno, os rebeldes poderiam abortar a votação ou as tropas governamentais poderiam exceder-se no uso da força, o que daria ao Kremlin a desculpa perfeita para não reconhecer os resultados.
Neste sábado, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que respeitará a escolha do povo ucraniano, mas tudo pode mudar em questão de semanas, ainda mais depois que exigiu a cessação da ofensiva contra as fortificações pró-russas.
Em uma amostra das intenções de ambos candidatos, sua primeira viagem ao exterior como presidente será a Bruxelas a fim de assinar um acordo para a criação de uma zona de livre-comércio com a União Europeia, antessala do ingresso efetivo ao bloco.
O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, assegurou que as autoridades fizeram todo o possível para garantir que as eleições sejam “limpas e transparentes” e acabar com práticas fraudulentas.
“Será a expressão da vontade popular dos ucranianos do oeste, leste, norte e sul. As eleições serão justas e livres. Não deixaremos que os bandidos e mercenários financiados pelo exterior abortem as eleições”, disse.
Yatseniuk convocou os ucranianos a comparecer maciçamente às urnas e prometeu que resta pouco tempo aos insurgentes para aterrorizar as regiões do leste de população de maioria russa.
A Ucrânia viveu hoje uma tensa jornada de reflexão, devido às tentativas dos rebeldes de frustrar os preparativos eleitorais, seja sequestrando membros de comissões eleitorais ou roubando equipamentos eletrônicos, urnas e listas de eleitores.
Na cidade de Artiomovsk, em Donetsk, um grupo de homens armados invadiu a sede da comissão do circunscrição eleitoral e instalou uma metralhadora na entrada.
Quase 100 mil soldados se ocuparão de garantir a segurança nas eleições para as quais estão convocados a votar mais de 33 milhões de ucranianos, mas isto pode ser insuficiente nas mais irredutíveis fortificações pró-russas.
Neste momento, os rebeldes parecem capazes de impedir o exercício do direito ao voto a pelo menos metade dos eleitores que residem em Donetsk e Lugansk (5 milhões), que representam 14% do censo nacional.
Os insurgentes recomendaram aos moradores dessas regiões que não saiam de suas casas no domingo e não utilizem o transporte público, embora, segundo a imprensa ucraniana, os mineiros do Donbass não tenham aderido ao boicote.
Enquanto isso, as autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk aproveitaram a véspera eleitoral para consumar a unificação sob o nome de Novorossia (Nova Rússia).
A cerimônia de unificação aconteceu em um hotel de Donetsk na presença de representantes de outras regiões do sudeste ucraniano – Odessa, Jerson, Nikolayev, Dnipropetrovsk e Zaparozhie -, um ato que contou apenas com a presença do canal de televisão russo “Rossiya-24”.
Ao contrário do caso da Crimeia, a Rússia não respondeu aos pedidos dos insurgentes para que reconheça sua independência declarada após os referendos separatistas de 11 de maio e o envio de forças de paz para seus territórios.
Putin foi o primeiro a falar publicamente de Novorossia, em referência aos territórios do leste da Ucrânia próximos ao Mar Negro e controlados desde o século 18 pelo império russo nos tempos de Catarina, a Grande. EFE
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