Ucrânia e ONU apelam ao diálogo para evitar anexação russa da Crimeia

  • Por Agencia EFE
  • 21/03/2014 14h03

Boris Klimenko

Kiev, 21 mar (EFE).- A Ucrânia e a ONU fizeram nesta sexta-feira uma última e desesperada tentativa de evitar a anexação russa da Crimeia ao apelar para o diálogo entre ambos os grupos, enquanto Kiev demandou a retirada das tropas russas para transformar a península em uma zona desmilitarizada.

“A Ucrânia nunca se resignará a aceitar a ocupação de seu território e fará todo o possível para sua libertação”, afirmou o presidente interino da Ucrânia, Aleksandr Turchinov, em entrevista coletiva em Kiev junto ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

O líder ucraniano fez esta declaração justo depois que o presidente russo, Vladimir Putin, sancionou a lei que consuma a adesão formal da Crimeia e o porto de Sebastopol à Federação Russa.

Turchinov ressaltou que Kiev está disposto a solucionar o conflito na Crimeia só através de meios pacíficos e com a mediação da ONU, por isso que propôs a criação de uma zona desmilitarizada.

“Esperamos que essa proposta seja estudada pelas Nações Unidas. Quando os soldados de ambos os grupos abandonarem a Crimeia, os problemas serão resolvidos exclusivamente por meios pacíficos”, apontou.

Além disso,Turchinov pediu à ONU que envie uma missão de observadores à península banhada pelo Mar Negro.

“Isto é especialmente importante em uma situação em que diariamente ocorrem provocações contra os militares ucranianos que cumprem seu dever constitucional na Crimeia”, disse.

Turchinov e Ban também alcançaram um acordo para a criação de uma comissão com representantes dos países signatários do Memorando de Budapeste: Estados Unidos, Rússia e o Reino Unido.

Em dezembro de 1994, os países signatários do memorando se comprometeram a respeitar a soberania, integridade e fronteiras da Ucrânia, depois que essa antiga república soviética renunciou ao seu arsenal nuclear.

Por sua vez, Ban advogou pelo diálogo entre Ucrânia e Rússia e chamou ambas as partes a se abster da retórica hostil e das provocações.

“Insisto que Ucrânia e Rússia entabulem um diálogo direto e construtivo. Acreditem em mim, quanto mais for dilatado este diálogo, mais se afastará a solução da crise”, assinalou.

O secretário-geral da ONU mostrou sua preocupação com o fato de que a resolução apresentada pelas potências ocidentais sobre Crimeia foi vetada pela Rússia.

“A atual crise só pode ser resolvida pela via pacífica e diplomática, apoiando-se nos princípios da Carta da ONU, incluindo a soberania e a integridade territorial”, ressaltou.

Ban ressaltou que não pode “prever os próximos passos ou reações de Putin”, mas chamou toda a comunidade internacional a evitar que o atual conflito regional se transforme em global.

O líder da ONU expressou sua satisfação pelo fato de que seu enviado para a Ucrânia, Ivan Simonovic, chegou hoje na Crimeia em uma visita de dois dias para preparar o trabalho de uma missão de especialistas que supervisionará a situação dos direitos humanos no território.

Na semana passada, as autoridades da Crimeia impediram o acesso de Simonovic, cuja missão é avaliar a situação no terreno, em particular das minorias ucraniana e tártara, após a incorporação da península à Rússia.

Com relação ao diálogo, Turchinov destacou que Kiev está disposta ao diálogo em qualquer forma, mas sempre que Moscou retire suas tropas da Crimeia.

“A principal postura para qualquer negociação deve ser a saída de todas as tropas de território da Ucrânia”, insistiu e denunciou as tentativas de Moscou de influenciar na política interna e exterior de Kiev.

Turchinov lembrou que os soldados ucranianos que ainda se encontram bloqueados em unidades militares e navios da Marinha na Crimeia têm o dever de defender suas atuais posições e impedir as incursões das forças pró-russas.

Ao mesmo tempo que está disposta ao diálogo, a Ucrânia anunciou que tem intenção de denunciar a anexação russa da Crimeia perante os tribunais internacionais, além de outras medidas políticas e diplomáticas destinadas a “restabelecer o status quo”.

Entre essas medidas figuraria a introdução de um regime de vistos com a Rússia, assunto que será abordado em breve pelo governo ucraniano.

Do que ninguém fala é de uma possível ruptura de relações diplomáticas entre ambos países, que têm estreitos laços comerciais, como ocorreu no caso da Geórgia depois que o Kremlin reconheceu a independência da Abkházia e Ossétia do Sul em 2008. EFE

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