UE acompanha eleições na Grécia com atenção, mas mais sólida do que em 2012
Céline Aemisegger.
Bruxelas, 22 jan (EFE).- A União Europeia, sobretudo a zona do euro, acompanham com preocupação as eleições na Grécia, mas o fazem em situação mais sólida do que em 2012, sabedora de que a eventual vitória da coalizão esquerdista Syriza provocará um choque no aspecto econômico e um possível contágio político em outros países.
Na memória de todos os países-membros da moeda única segue presente o “flerte” da Grécia com a saída do euro em 2011, com o anúncio de um referendo sobre o plano de resgate, do qual depois desistiu, e as duas tensas eleições de 2012.
Os gregos também lembram que o líder da Syriza, Alexis Tsipras, defendeu então a abolição do pré-acordo assinado com a chamada “troika” (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), renegociar o empréstimo e decretar uma moratória do pagamento da dívida e seus juros.
Em 2015, a coalizão volta a insistir na necessidade de renegociar a dívida, ainda em 175,5% do PIB.
No plano político, se a Syriza chegar ao poder na Grécia, “pode ter importantes implicações” e ser vista como uma prova de fogo para outros partidos de esquerda – como o Podemos nas eleições deste ano na Espanha – ou como possível modelo a ser seguido por forças populistas ou anti-austeridade em outros países, segundo alguns analistas políticos.
A questão será se Syriza e o futuro governo grego conseguirão ter a confiança dos mercados.
“Se a perder e a Grécia cair em uma nova etapa de crise, não ajudará a dar credibilidade aos novos movimentos políticos”, disse à Agência Efe a analista Daniela Schwarzer, do German Marshall Fund dos Estados Unidos em Bruxelas.
A zona do euro, que, segundo o centro de estudos Open Europe, tem em suas mãos junto com o FMI 72% dos 322 bilhões de euros da dívida grega, iniciou em novembro de 2012 as bases para proporcionar “mais medidas e assistência” de modo que a Grécia consiga uma “redução crível e sustentável da dívida”.
Essa promessa não incluía uma nova remissão de dívida, mas mais uma redução dos juros, e dependia de a Grécia conseguir um superávit anual primário (que já atingiu) e implementar “todas” as condições estabelecidas no segundo resgate.
A zona do euro sabe que deve cumprir sua parte do acordo e, nas últimas semanas, anunciou à Grécia que apoiará o país se acatar seus compromissos.
Ao contrário de 2012, no pior momento da crise de dívida, a zona do euro está agora melhor preparada para reagir a qualquer foco de instabilidade, com firewalls, uma união bancária e um Banco Central Europeu (BCE) mais ativo.
“Existe certo grau de nervosismo, mas a zona do euro em geral está menos pressionada pelos mercados financeiros do que em 2012”, afirmou Schwarzer, que acrescentou que, também do ponto de vista político, há “menos preocupação” acerca da Syriza, em parte porque “parece ter refinado suas posições, que são menos radicais e geram menos confronto”.
A zona do euro “pode estar menos nervosa” do que em 2012, opinou também Raoul Ruparel, de Open Europe, embora isso possa “endurecer sua posição negociadora” com Atenas, tanto que a Grécia pode pensar que a situação é mais administrável agora porque sua economia cresce pela primeira vez após seis anos e os bancos estão em melhor estado do que há alguns anos.
Isso poderia permitir a Atenas adotar uma postura igualmente mais dura em relação à troika, advertiu Ruparel, prevendo assim um choque forte entre ambas as partes.
Frente à campanha de “medo” que a Syriza denuncia, Tsipras disse que negociará com seus aliados europeus “sobre uma base realista” e que a Grécia permanecerá na zona do euro.
Um dirigente da UE afirmou recentemente à Efe que Tsipras é visto em Bruxelas como “razoável”.
A Comissão Europeia quer propor uma nova prorrogação de até seis meses do resgate à Grécia para evitar problemas de liquidez a partir de março, pois no fim de fevereiro expira a primeira extensão da parte europeia do programa, e encontram-se suspensas as negociações com a troika.
Em 2012, a zona do euro exigiu a todos os líderes dos partidos políticos da Grécia que se comprometessem por escrito com mais reformas e ajustes.
Os ministros de Economia e Finanças da zona do euro, primeiro, e os do conjunto da UE, depois, serão os primeiros a analisar a situação nas reuniões já previstas para as próximas segunda e terça-feira. EFE
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