UE e Cuba decidem pisar no acelerador para fechar acordo até o final do ano
Sara Gómez Armas.
Havana, 24 mar (EFE).- Cuba e União Europeia (UE) acelerarão suas negociações e esperam fechar um acordo de diálogo político e cooperação até o final do ano, segundo anunciou Federica Mogherini nesta terça-feira em Havana ao finalizar o que foi a primeira viagem oficial à ilha de uma chefe da diplomacia comunitária.
Mogherini assinalou em entrevista coletiva que é o momento de “dar velocidade” ao processo de diálogo iniciado em abril de 2014 para alcançar um acordo com a ilha – o único país da América Latina com o qual a UE não o tem -, o que permitiria superar a “posição comum”, que condiciona desde 1996 o diálogo com Cuba a avanços em direitos humanos e liberdades.
“Fechar um acordo será crucial para desenvolver nossa cooperação e diálogo político sobre bases sólidas”, ressaltou Mogherini, que lembrou que a maioria dos países do bloco já têm acordos bilaterais com a ilha.
A alta representante de Relações Exteriores e Política de Segurança terminou hoje uma intensa agenda em Cuba, que incluiu reuniões com o presidente Raúl Castro, o chanceler Bruno Rodríguez, os titulares dos ministérios de Economia e de Comércio e Investimento Estrangeiro, além de um encontro com o cardeal Jaime Ortega e representantes da sociedade civil.
“Vou embora muito satisfeita (…). Se o propósito da minha visita era fortalecer as relações entre Cuba e a UE, o resultado foi muito positivo”, comentou.
Em seus encontros com autoridades cubanas, a diplomata comunitária tratou “uma ampla variedade de temas” que cobrem os vínculos entre Cuba e a UE, entre os quais se incluem os direitos humanos, um dos assuntos mais delicados em seu diálogo com a ilha.
“Falamos dos direitos humanos que devem ser respeitados tanto em Cuba como na Europa. Sempre gosto de lembrar que não queremos dar lições, mas compartilhar nossos padrões sobre direitos humanos, individuais, econômicos e sociais”, salientou Mogherini.
A alta representante europeia destacou a vontade da UE de tratar “sem dois pesos e duas medidas”, “nem tabus”, o tema dos direitos humanos, que já abordaram na última rodada de negociações para um acordo bilateral, em Havana, no início deste mês.
Além de intensificar os contatos para conseguir um acordo, as partes também marcaram uma visita do chanceler Rodríguez a Bruxelas no próximo dia 22 de abril.
Mogherini também espera que uma delegação cubana de alto nível compareça à próxima cúpula UE-CELAC, que acontecerá em junho na capital comunitária.
A italiana abordou ainda com as autoridades cubanas o restabelecimento de suas relações com os Estados Unidos, processo que a UE apoia e celebra, mas que considera “independente” do diálogo entre a ilha e o bloco comunitário, que mantêm “vínculos firmes e históricos há 25 anos”.
Mogherini lembrou que a UE é o “segundo parceiro comercial de Cuba, o primeiro investidor estrangeiro e o terceiro emissor de turistas”; além de ter destinado à ilha até 110 milhões de euros em ajuda.
No marco da cooperação bilateral, Mogherini anunciou, além disso, um acordo pelo qual a UE entregará a Cuba 50 milhões de euros até 2020 para projetos em áreas como a agricultura e o meio ambiente.
Em suas reuniões com autoridades cubanas, também foram tratadas as possibilidades de aumentar a cooperação bilateral, já que a UE “quer acompanhar Cuba” no atual contexto de reformas empreendidas por Raúl Castro para modernizar a economia da ilha.
“Neste momento de profundas mudanças, talvez um pouco lentas, a UE está disposta, pronta e convencida que deve contribuir para essa atualização da melhor maneira possível”, comentou Mogherini.
A visita da alta representante da UE aconteceu três semanas depois da do chanceler italiano, Paolo Gentiloni, e em maio será a vez do presidente François Hollande, a primeira de um líder francês a Cuba.
A intensidade das visitas de políticos europeus coincide com o degelo entre Cuba e EUA, o que demonstra o interesse da diplomacia comunitária em seguir aprofundando suas relações com a ilha e não perder sua atual situação de vantagem no plano econômico. EFE
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