UE e Rússia trabalham para superar diferenças em relação a ex-soviéticos
Bruxelas, 28 jan (EFE).- A União Europeia e a Rússia mostraram nesta terça-feira sua divisão sobre a Associação Oriental que o bloco europeu promove para estreitar relações com a Ucrânia e outras repúblicas ex-soviéticas, mas anunciaram a criação de um grupo de trabalho para abordar “diferentes interpretações e mal-entendidos”.
O presidente russo, Vladimir Putin, se reuniu com os presidentes do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, para discutir as relações políticas e econômicas entre as duas potências na 32ª cúpula, mas também assuntos de interesse regional como a crise na Ucrânia.
O acordo comercial que o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, rejeitou assinar em novembro com a UE é a origem dos protestos que desde novembro reivindicam na Ucrânia mais democracia e aproximação com a União, e foi protagonista de uma cúpula que Barroso definiu como “tão útil quanto necessária”.
Van Rompuy anunciou que UE e Rússia vão iniciar um grupo de especialistas para analisar as “diferentes interpretações e mal-entendidos” que a Associação Oriental impulsionada pelo bloco europeu em 2009 para estreitar sua relação com Ucrânia, Armênia, Geórgia, Belarus, Moldávia e Azerbaijão podem ter.
“Deixei claro que a Associação Oriental não afeta os vínculos econômicos, comerciais, sociais, humanos e culturais da Rússia com muitos de nossos vizinhos comuns”, disse na entrevista coletiva ao término da reunião Van Rompuy, que garantiu que esses laços “não estarão em perigo, mas ao contrário, serão estimulados por um desenvolvimento econômico dinâmico e bem-sucedido” desses países.
Igualmente, disse que qualquer acordo comercial entre a UE e esses países “é completamente compatível com os acordos comerciais existentes” entre Rússia e eles, e que podem “interagir construtivamente com a União Aduaneira (liderada pela Rússia) enquanto se apliquem as normas da Organização Mundial do Comércio e se garanta a liberdade de decisão”.
Putin, que especificou que manteve uma “aberta e franca” discussão com os representantes europeus, insistiu ser do interesse russo que os vizinhos comuns da Rússia e da UE sejam “prósperos e desenvolvidos”.
“Estes países tentaram ativamente cooperar com a UE e também preservar seus laços históricos com a Rússia, e nós certamente deveríamos ajudá-los nessas aspirações”, comentou, ao reafirmar que a Rússia “sempre respeitou os direitos soberanos” de todos os Estados.
Sobre o acordo comercial que a Ucrânia não chegou a assinar com a UE, afirmou que “a preocupação aqui não é a decisão soberana da Ucrânia, mas o impacto econômico do acordo”.
“Qualquer decisão em termos de custo-benefício para qualquer país deveria ser feito pela nação em questão através de procedimentos democráticos”, concluiu.
Kiev, em lugar de assinar com os europeus, optou por aceitar de Moscou um empréstimo incondicional de US$ 15 bilhões e uma redução nos preços do gás importado da Rússia, um acordo energético que Putin assegurou que não revisará nem se o governo ucraniano mudar de opinião.
“Não importa que autoridades estejam no poder, mas que política econômica perseguirão”, apontou.
Putin deu outro exemplo das diferenças que separam Rússia e UE sobre a situação na Ucrânia ao afirmar que seu país não vai “interferir, pois a Ucrânia não precisa de intermediários”.
“Tenho certeza que o povo ucraniano vai resolver por si mesmo, e Rússia não vai interferir”, disse Putin. Minutos antes Van Rompuy insistiu que o uso da força na Ucrânia não vai resolver seus problemas políticos e lembrou que esta noite a chefe da diplomacia comunitária, Catherine Ashton,viajará para Kiev, como fez o comissário europeu de Vizinhança, Stefan Füle, para “evitar a escalada” de violência e contribuir para “restaurar a estabilidade política”.
“Há assuntos nos quais temos que concordar que não estamos de acordo”, afirmou Barroso, que citou as discussões pelas taxas de sobrevoo da Sibéria.
A cúpula também fez um balanço das negociações para um novo acordo de associação UE-Rússia, que as partes esperam relançar para a próxima cúpula, que acontecerá na cidade russa de Sochi em junho.
E assinaram uma declaração conjunta para cooperar mais contra o terrorismo, abordaram assuntos internacionais como a situação na Síria e a negociação sobre o programa nuclear iraniano, e trataram o tema dos direitos humanos, confirmou Putin.
Antes de o presidente russo chegar à sede do Conselho da UE dois ativistas do movimento feminista Femen protestaram de topless diante do edifício contra Putin, a quem chamaram de “assassino”, e para reivindicar a “liberdade dos presos políticos” na Rússia. EFE
rja/cd
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.