Última parada antes da Alemanha, Viena se organiza para receber refugiados

  • Por Agencia EFE
  • 01/09/2015 20h01

Viena, 1 set (EFE).- O trem Railjet 148 vindo de Budapeste entra na estação oeste de Viena (Westbahnhof) às 23h47 (horário local), em meio à frenética aglomeração de voluntários e cidadãos do país que se aproximam da plataforma para dar boas-vindas ao mais recente comboio de refugiados do Oriente Médio.

Foi o último trem que chegou à capital austríaca na segunda-feira, um dia marcado pelo caos e a incerteza. No fim, 3.650 imigrantes, em grande parte sírios, iraquianos e afegãos, conseguiram cruzar a fronteira vindos da Hungria.

Da Westbahnhof, quase todos seguiram o mesmo caminho na própria segunda-feira ou na manhã de hoje: a Alemanha, o país mais popular da Europa atualmente, ao menos para os imigrantes do Oriente Médio. São famílias inteiras, com bebês recém-nascidos, adolescentes, jovens, avós, mulheres grávidas.

“Alemanha, queremos chegar à Alemanha”, afirmaram praticamente todos os refugiados consultados pela Agência Efe na Westbahnhof ao longo da madrugada de hoje.

Agbar, um jovem afegão de 18 anos, demorou três meses para chegar à Áustria. Saiu de Jalalabad, no leste do país natal, e sofreu várias perdas no caminho até a Áustria.

“O pior foi passar pelo Irã, onde mataram meu tio. Na Turquia, fiquei um mês preso antes de poder ir para a Grécia”, revela.

Depois de libertado e já no território grego, seguiu pela chamada “Rota dos Bálcãs”, cruzando Macedônia, Sérvia e Hungria, onde conseguiu entrar em um dos três com destino a Viena.

Agora, Agbar quer chegar Alemanha o quanto antes. Lá, onde já vivem outros amigos refugiados, ele espera aprender um ofício e começar a trabalhar.

Ahmad, um comerciante de tecidos na cidade de Homs, no oeste da Síria, é outro que arriscou a longa viagem. O cansaço e a preocupação das últimas semanas estão visivelmente estampados em seu semblante. Mas primeiro, ele fugiu com a mulher e os quatro filhos adolescentes há dois anos, de Istambul.

“A vida não era ruim na Turquia, mas muito cara. Meus filhos devem frequentar o colégio e estudar. Por isso, queremos ir para a Suécia”, afirma Ahmad.

O comerciante ficou aliviado, agradecido e, sobretudo, surpreso com a acolhedora recepção em Viena, cidade considerada como última parada antes dos refugiados conseguirem chegar ao destino final.

Essas são apenas duas de milhares de histórias de indivíduos e de famílias que estão desembarcando na Europa Central após fugirem da violência no Oriente Médio.

Diante do iminente fechamento da fronteira sul da Hungria com um grande muro e com a proximidade de inverno, o fluxo de imigrantes se intensificou nas últimas semanas.

Na Áustria, onde as autoridades esperam 80.000 solicitações de asilo político somente neste ano, a sociedade civil está se mobilizando para ajudar os refugiados.

Mais de 20 mil pessoas fizeram uma manifestação na noite de ontem em Viena para reivindicar melhores condições aos imigrantes nos centros de amparo. Ao mesmo tempo, voluntários organizaram um evento de boas-vindas aos imigrantes na estação de trem.

A principal coordenadora do movimento é Birgit Hebein, uma deputada municipal do partido “Os Verdes”, que governa a capital austríaca ao lado dos social-democratas.

Sob seu comando, um pequeno grupo de voluntário organiza sem descanso há dias o esforço humanitário em Westbahnhof, a estação de trem mais importante de Viena.

“Temos equipes de assistência médica, comida quente, salas de descanso para as famílias e os doentes. Contamos com um grande grupo de tradutores voluntários. Eles são muito importantes”, explicou a parlamentar em entrevista à Efe.

Muitos refugiados chegam à Áustria com um bilhete de trem comprado em Budapeste com a Alemanha como destino final. Mas muitos temem perder as conexões ou serem enviados de volta à Hungria.

O trabalho dos tradutores consiste em tranquilizar os imigrantes, explicar que se trata apenas de uma breve estadia em Viena e que ninguém irá impedi-los de embarcar no próximo trem.

Após a dramática situação de ontem, depois de as autoridades húngaras terem fechado o acesso à estação de Keleti, ninguém sabe o que ocorrerá nos próximos dias na capital austríaca.

“Temos que estar preparados. Mais milhares de refugiados vão chegar, tenho certeza”, concluiu Birgit. EFE

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