Um ano após Ferguson, EUA trabalham para reconciliar polícia e minorias

  • Por Agencia EFE
  • 10/08/2015 20h37
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Beatriz Pascual Macías.

Washington, 10 ago (EFE).- Reconciliar polícia e minorias se tornou o grande desafio do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, cuja principal representante, a procuradora-geral Loretta Lynch, repudiou nesta segunda-feira os casos de violência na cidade de Ferguson, no estado do Missouri, após as manifestações para recordar a morte do jovem negro Michael Brown, ocorrida há um ano.

Com a meta de acabar com a questão racial que divide o país, o Departamento de Justiça instaurou há três meses um programa piloto para fortalecer as relações entre a polícia e as minorias, que dizem que as forças da ordem usam de maneira discriminatória a violência com base na cor da pele.

“Superar as diferenças que nos separam requer nossos melhores esforços”, reconheceu Lynch, que nesta segunda-feira se reunirá com líderes comunitários e políticos de Pittsburgh, na Pensilvânia, uma das cidades sob a supervisão do governo para acabar com as tensões raciais.

Em discurso, Lynch lembrou os três policiais mortos na cidade em abril de 2009, quando um homem que tinha acabado de perder o emprego se envolveu em uma briga doméstica e cinco agentes interviram. Três deles foram assassinados com um fuzil AK-47 na ocasião.

“Sei muito bem que essa profissão, esse papel de guarda, carrega grandes riscos e requer coragem todos os dias”, ressaltou a procuradora, que também teve palavras de consolo para a família do agente Sean Bolton, de 33 anos, morto a tiro por um cidadão negro em Memphis, no Tennessee, no início de agosto.

Ao repudiar a violência causada após as manifestações pelo aniversário da morte de Brown, Lynch comentou que “os recentes acontecimentos nas comunidades de todo o país servem como trágicas lembranças das tensões que existem em muitos bairros entre as forças da ordem e o povo”.

Segundo a versão policial, após uma série de protestos pacíficos, um jovem negro identificado como Tyrone Harris Jr., de 18 anos, abriu fogo contra uma viatura policial e foi gravemente ferido pelos agentes que responderam a seus tiros.

“Condeno categoricamente a violência contra a comunidade, incluindo (a exercida contra) os policiais, em Ferguson”, enfatizou ele durante um discurso na Ordem Fraternal da Polícia, maior organização policial do país, com mais de 325 mil membros.

Nas palavras da procuradora, “a violência não só obscurece qualquer mensagem de protestos pacíficos, mas também põe em perigo a comunidade e os policiais encarregados de protegê-la”.

Até o tiroteio da noite de domingo, a paz, o silêncio e os pedidos de reconciliação tinham marcado as homenagens ao jovem Michael Brown – morto por um policial branco que não foi acusado pela justiça -, que se tornou um marco para o novo movimento em prol dos direitos civis dos negros.

Horas depois do novo tiroteio, os manifestantes convocaram uma jornada de desobediência civil com uma série de passeatas que chegaram até um tribunal de Saint Louis, onde foram anunciadas acusações contra o jovem internado no hospital enquanto vários ativistas eram presos nas proximidades.

Logo após ser nomeada procuradora-geral, Lynch teve que enfrentar uma nova tensão racial em Baltimore, onde a morte de Freddie Gray, depois dos graves ferimentos sofridos sob custódia policial, provocou distúrbios e, consequentemente, a mobilização da Guarda Nacional e a instauração do toque de recolher na cidade.

A morte de Brown após baleado por um agente, segundo determinou a investigação do caso, resultou no nascimento do movimento “Black Lives Matter” (“A vida dos negros importa”) e se tornou um dos maiores desafios para o Departamento de Justiça, cujo antigo procurador-geral Eric Holder se reuniu em Ferguson com líderes comunitários para acalmar as fortes tensões raciais.

Posteriormente, o órgão interveio na polícia de Ferguson, de maioria branca, e descobriu que os agentes adotavam práticas abusivas contra a população negra, o que causou a renúncia do chefe da corporação, Thomas Jackson.

Em maio, o presidente Barack Obama lançou um programa de US$ 17 milhões para que os policiais integrassem câmeras a seus uniformes e proibiu o fornecimento de alguns equipamentos militares à polícia, o que é considerado por muitos uma forma excessiva de reprimir manifestações pacíficas.

Com seu discurso, um ano depois da morte de Brown, Lynch deixou claro que conseguir a reconciliação entre minorias e forças da ordem é seu “maior objetivo” como procuradora-geral, mas disse que precisará da ajuda de líderes comunitários, policiais e do sistema de justiça. EFE

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