Um ano de descuidos, tropeços e deslizes para Robert Mugabe

  • Por Agencia EFE
  • 24/09/2015 14h05

Oliver Matthews.

Harare, 24 set (EFE).- Quando na semana passada Robert Mugabe, presidente do Zimbábue há quase três décadas, leu um discurso que já tinha pronunciado no mês anterior perante o parlamento, seus opositores só puderam regozijar-se com a enésima “patinada” do nonagenário político.

Embora seus assessores tenham atribuído o incidente a um mal-entendido do gabinete de presidência, o certo é que a imagem de Mugabe lendo um discurso repetido sem perceber reavivou todos os rumores e intrigas sobre sua capacidade para governar o país aos 91 anos.

Com tão avançada idade, Mugabe teve que conciliar a chefia de Estado com as presidências rotatórias da União Africana (UA) e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), dois postos que, além de gerar muita polêmica por sua má reputação, lhe obrigaram a viajar mais que o recomendável.

Em fevereiro deste ano, o presidente tropeçou no tapete vermelho do aeroporto da capital Harare quando retornava de uma cúpula da UA e sua foto caindo sobre seus joelhos deu a volta ao mundo com a hashtag #MugabeFalls (Mugabe cai).

Depois desse incidente, sua esposa Grace, 40 anos mais jovem que Mugabe, lhe leva pelo braço a todas partes e lhe escolta nos palanques quando tem que dar um discurso, mesmo sendo o errado.

Em dezembro, o líder zimbabuano reconheceu, talvez traído por seu próprio cérebro, que o líder opositor Morgan Tsvangirai obteve 73% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais de 2008.

A apuração oficial desses pleitos lhe deram 47% dos votos e deveria ter sido realizado um segundo turno que nunca aconteceu porque o candidato da oposição se retirou no meio de ameaças e ataques contra seus correligionários.

Outro de seus grandes deslizes também aconteceu em dezembro do ano passado, quando entoou o cântico “Abaixo a Zanu-PF!” perante o olhar incrédulo de milhares de membros da União Nacional Africana do Zimbábue-Frente Patriótica, seu próprio partido, e os espectadores que estavam em suas casas presenciando o discurso.

No entanto, o momento que se viveu no último dia 15 de setembro na sessão de abertura do parlamento do Zimbábue supera qualquer outro instante embaraçoso do polêmico líder.

Mugabe já tinha dado exatamente o mesmo discurso três semanas antes para falar sobre o estado da nação, mas nesse dia não pareceu perceber que todas e cada uma das palavras que saíam de sua boca já tinham sido pronunciadas anteriormente.

Durante o discurso, no parlamento ninguém ousou movimentar-se. Os deputados do partido governante tinham medo de contrariar o presidente do país e os da oposição tinham sido convenientemente advertidos – e ameaçados – através de uma mensagem de texto que deviam comportar-se.

“Fica claro que Mugabe deixou para trás seus melhores anos. É um sintoma claro de senilidade e da perda de faculdades físicas e mentais”, denunciou o partido opositor Movimento para uma Mudança Democrática (MDC) em comunicado.

Mais uma vez, os membros da Zanu-PF saíram em sua defesa e inclusive lembraram que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, leu um discurso errado durante sua primeira legislatura, mas a população não foi tão benévola com Mugabe.

“Estes impostores permitiriam que Mugabe urinasse em suas cabeças e eles diriam que está chovendo”, afirmou um zimbabuano no Twitter, enquanto outros pediam à primeira-dama que o convencesse a renuncie a seu cargo.

Seja como for, analistas e especialistas concordaram em assinalar que os descuidos, tropeções e demais deslizes de Robert Mugabe só podem piorar, o que põe em sério perigo suas candidatura para as eleições de 2018. EFE

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