Um beijo promove a campanha pela paz entre árabes e judeus
Mario Villar.
Nova York, 29 jul (EFE).- Um simples beijo foi a faísca que permitiu que uma modesta campanha para defender a paz entre árabes e judeus tenha se transformado nos últimos dias em sucesso nas redes sociais.
Sulome Anderson, uma jornalista americana de origem libanesa, publicou no dia 13 de julho no Twitter uma foto em que aparecia beijando seu namorado, israelense, e segurando uma folha de papel em que estava escrito: “Judeus e árabes se negam a ser inimigos”.
Sob a imagem, a jovem publicou em inglês: “Ele me chama de neshama (carinho, em hebraico), eu o chamo de habibi (querido, em árabe). O amor não fala o idioma da ocupação” e incluía a hashtag #JewsAndArabsRefuseToBeEnemies.
Desde então, a imagem foi compartilhada mais de quatro mil vezes e impulsionou a campanha, iniciada pouco antes por um estudante israelense do Hunters College de Nova York e uma amiga síria, de forma espetacular.
A campanha tem uma página no Facebook que em apenas duas semanas alcançou mais de 38 mil seguidores e se propagou como pólvora nas redes sociais.
A hashtag foi ilustrada com centenas de fotos de casais de árabes e judeus, famílias mistas, amigos pertencentes às duas comunidades e pessoas que defendem a paz entre elas de todos os cantos do mundo.
Junto delas, mensagens como “Por que não podemos nos dar bem?”, “Podemos trabalhar juntos” e “Paremos o ódio” inundaram as redes sociais, enquanto de Gaza e de Israel não paravam de chegar imagens e informações sobre combates entre israelenses e palestinos e apavorantes números de mortes de civis.
O efeito viral do beijo protagonizado por Sulome e seu namorado, criado em uma família ortodoxa e que preferiu não divulgar seu nome completo, promoveu o casal nos meios de comunicação de todo o mundo.
Por causa disso a jornalista de 29 anos avisou em seu perfil no Twitter que não dará mais entrevistas e ressaltou que a campanha #JewsAndArabsRefuseToBeEnemies vai muito além de sua relação amorosa.
A própria Sulome, no entanto, relatou a experiência em primeira pessoa em um artigo para a revista “New York Magazine”, em que contou que publicou a fotografia sem pensar demais.
“Estávamos de férias e, por sugestão de uma amiga jornalista, publicamos uma foto nossa juntos em apoio ao que então era uma iniciativa pouco conhecida”, conta.
A imagem recebeu milhares de elogios, mas também críticas.
“Alguns nos criticaram por trivializar o que está acontecendo em Gaza. Dizem que este conflito não é sobre o ódio entre judeus e árabes, mas sobre um país poderoso oprimindo pessoas mais frágeis”, explicou Sulome, que pessoalmente garante estar de acordo com a segunda postura, mas defende que a campanha pode servir para trazer mudanças positivas.
A jornalista, filha de um correspondente americano que nos anos 80 passou sete anos sequestrado no Líbano por uma milícia precursora do Hezbollah, garantiu que, embora ela e seu parceiro não compartilhem sempre os mesmos pontos de vista sobre o Oriente Médio, estão de acordo que o importante no conflito são as pessoas.
“Gostamos que o movimento enfatize as conexões humanas entre pessoas que foram ensinadas a se odiarem”, ressaltou Sulome, destacando o apoio que recebeu de pessoas que não compartilham em nada sua visão política.
“Apesar de nossas diferenças, viram algo nessa mensagem com o que podiam conectar, e isso me dá esperança”, concluiu. EFE
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