Um passeio turístico pela Lisboa do cinema
Adrian Espallargas.
Lisboa, 14 mar (EFE).- Lisboa é cinematograficamente única. Sua gente, seus cafés, seus mirantes e sua luminosidade fazem com que mais de 300 filmes por ano sejam rodados nas ruas da capital portuguesa, o que contribui para o “boom” que vive no setor turístico.
A cidade está na moda, e isso é fácil perceber. Só em 2013 recebeu quase três milhões de visitantes estrangeiros, 8% mais do que um ano antes, atraídos pela conjugação única de majestade com um toque decadente.
“Lisboa parece um cenário cinematográfico disposto a ser filmado”, afirmou à Agência Efe Liliana Navarra, diretora da Lisbon Movie Tour, uma empresa que oferece passeios pelas ruas da cidade com base no cinema.
Doutora em cinema português, esta italiana de 33 anos vive em Lisboa há uma década e acaba de criar o projeto para apresentar sua cidade favorita a grupos de turistas aos quais mostra onde foram rodados os dois filmes, em sua opinião, mais importantes tendo suas ruas como cenário.
“Não é preciso que as pessoas que passeiem conosco conheçam os filmes, já que percorremos a região histórica da cidade e eu vou mostrando os cenários dos filmes no tablet”, explicou a napolitana.
A empresa oferece visitas guiadas em inglês, italiano, francês e português, e a previsão é de que nos próximos meses comecem os tours em espanhol. Por enquanto, são oferecidos dois passeios pelas ruas da cidade do Tejo.
O primeiro exibe aos turistas as cenas do filme italiano “Páginas da Revolução” (1995), dirigido por Roberto Saenza. Durante duas horas, os participantes do passeio visitam o tradicional Bairro Alto, o bem cuidado Jardim do Príncipe Real e a imponente região Baixa do Chiado.
“Páginas da Revolução” é baseado em uma das obras mais marcantes do italiano Antonio Tabucchi, um confesso admirador de Lisboa que viveu longas temporadas na capital lusa, onde morreu em 2012. Através dos cenários do filme é possível descobrir uma cidade quase desconhecida, inclusive, de muitos moradores.
Durante o passeio, Liliana se detém a poucos metros do monumental Arco da Rua Augusta, que conecta com a Praça do Comércio, liga o tablet e mostra os instantes finais do filme italiano que foram rodados no local.
“Esse é um momento crucial porque o personagem principal, que é jornalista, decide finalmente contar a verdade sobre um assassinato, apesar da ferrenha censura da ditadura de Salazar”, detalhou a italiana.
A segunda caminhada oferecida pelo Lisbon Movie Tour é mais curta e insere os turistas no filme “Filme do Desassossego” (2010), uma produção portuguesa baseada no complexo livro assinado por Bernardo Soares, um dos heterônimos do poeta Fernando Pessoa.
As cenas do filme levam os visitantes a se perderem pela Baixa de Lisboa para acabar na imponente Praça do Comércio, aonde chegavam os navios portugueses carregados de especiarias. Ali a guia se aproxima de um dos mirantes que mostram uma magnífica vista da foz do Tejo e volta a mostrar uma cena do filme.
Antes de terminar a caminhada, Liliana convida os turistas a entrar no Café Martinho da Arcada, onde um chapéu e óculos indicam a mesa cativa de Fernando Pessoa.
“Pessoa é uma das imagens mais conhecidas de Portugal e é em si mesmo um universo”, argumentou a guia turística.
Opinião compartilhada por Paulo Soares, um lisboeta de 36 anos apaixonado pela obra de Pessoa, e que qualificou como “fantástico” o passeio baseado no filme.
Já Dana, uma mulher nascida no Cazaquistão e que trabalha na capital portuguesa há dois anos, disse estar encantada.
“Vi o filme quando morava em Londres porque meu colega de quarto era português, e eu fiquei encantada. Graças a este tour pude lembrar alguns dos momentos mais lindos do filme”, comentou.
O doce momento vivido Lisboa no tocante à projeção internacional poderia se prolongar graças ao cinema se os desejos de seu prefeito, António Costa, se tornassem realidade.
A hipótese de que o diretor Woody Allen escolha a cidade como próximo cenário de uma de suas obras – ao estilo das que já rodou em Roma, Paris e Barcelona – é um sonho publicamente admitido pelo próprio Costa, consciente do imenso poder de atração da “sétima arte”. EFE
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