Um pedaço do Vale do Silício em Belo Horizonte

  • Por Agencia EFE
  • 06/12/2014 06h10

Léo Valente Santiago.

Belo Horizonte, 6 dez (EFE).- Ambientes de trabalho cheios de cor, com funcionários usando roupas informais enquanto jogam sinuca ou tênis de mesa, característicos dos escritórios do Google nos Estados Unidos, também são habitat do único centro de engenharia da companhia na América Latina, que fica em Belo Horizonte.

É nessa sede repleta de salas que convidam ao lazer e que redefinem o que se pensava sobre um dia no trabalho onde são desenvolvidos projetos e investimentos tanto na busca na internet como na de talentos.

O Google escolheu a capital mineira para reproduzir na América Latina seu lar no Vale do Silício atraído pela Akwan, uma pequena empresa inovadora da qual fazia parte o engenheiro Berthier Ribeiro-Neto, professor de Ciências da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A Akwan, batizada com uma palavra de língua indígena guarani que significa “ligeiro”, foi criada por um grupo de professores da UFMG para participar de uma licitação pública que oferecia recursos a pesquisadores. No caso deles, o objetivo era, além de fazer pesquisa, desenvolver um buscador na internet voltado ao mercado brasileiro.

A pequena empresa desenvolveu então o “TudoBR”, que rapidamente chamou a atenção da empresa de tecnologia com sede em Mountain View, na Califórnia, e fundada por Sergey Brin e Larry Page.

Cerca de seis anos depois da criação da start up, surgida dentro do campus da universidade, a Akwan foi incorporada ao Google. Era outubro de 2004 quando Wayne Rosen, vice-presidente de engenharia da companhia, fez uma visita a Belo Horizonte para conhecer a start up, sua equipe e seu buscador.

“Havia muita gente no Google que tinha passado pela universidade, que tinha ido da universidade para o Google e que nos conhecia. Como éramos ativos academicamente, o Google sabia que havia um grupo de pessoas com conhecimento de tecnologia de busca, que tinha um buscador, e que essa empresa tinha sobrevivido por cinco anos”, lembrou Ribeiro-Neto.

A venda foi concluída em julho de 2005, e a estrutura da start up deu lugar ao primeiro e único centro de engenharia do Google na América Latina, e o buscador “TodoBR” foi absorvido pelo gigante americano junto com sua tecnologia de “search”, considerada em 1999 melhor que a do Google no Brasil.

“Por que a venda?”, perguntou o próprio Ribeiro-Neto durante conferência a um grupo de jornalistas latino-americanos convidado a conhecer as instalações e as atividades do Google em Belo Horizonte.

“Há muitas razões, mas a principal é a dificuldade que temos no Brasil e na América Latina em geral para ter acesso a capital a baixo custo”, respondeu, ao lembrar a recusa de financiamento por parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que considerou que a internet não era um bom negócio.

O que não era uma oportunidade para o banco, servia para os executivos de Mountain View, que, segundo Ribeiro-Neto, tinham demonstrado na proposta de compra o interesse em transformar a pequena empresa em seu centro de engenharia na América Latina para “search” (busca) e o “social”, as duas áreas de atuação do equipe liderada por ele, que atualmente é diretor do Centro de Engenharia do Google em Belo Horizonte.

Quase dez anos após nascer com uma equipe de 12 engenheiros, o centro conta agora com um total de 100 profissionais, dos quais 20% são estrangeiros oriundos principalmente de países latino-americanos (Colômbia, Venezuela, Chile e Peru), da Europa (França, Alemanha e Holanda) e da Ásia (Índia).

Desde então, um dos principais desafios do Google em Belo Horizonte foi encontrar talentos de “impacto mundial”. Há 18 meses, um novo passo foi dado nesse sentido com o lançamento de um programa de bolsas de estudo para pesquisa no Brasil, com cinco vagas para estudantes e seus professores, que será dobrado e estendido a toda a América Latina a partir de 2015, com um investimento total de US$ 1 milhão em três anos de duração.

“Esse programa de bolsas de estudo tem uma natureza diferente. A verba será destinada a projetos originários da América Latina”, explicou Ribeiro-Neto.

Segundo ele, as bolsas vão privilegiar a qualidade dos projetos e não a origem dos pesquisadores. “Vamos tentar financiar projetos que sejam inovadores”, afirmou. EFE

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.