Um “sobrevivente” e sua última oportunidade como líder liberal

  • Por Agencia EFE
  • 16/06/2015 18h03

Copenhague, 16 jun (EFE).- Ex-primeiro-ministro dinamarquês e líder do Partido Liberal, Lars Lokke Rasmussen encara aquela que provavelmente será sua última oportunidade para conseguir nas urnas, na próxima quinta-feira, uma vitória que parecia ter no bolso há alguns meses.

Após suceder Anders Fogh, que deixou o cargo na metade do mandato para assumir a Secretaria-Geral da Otan, ele não conseguiu evitar o retorno da centro-esquerda ao poder, justificado pelo desgaste de seu partido depois de uma década governando e pelos efeitos da crise econômica.

O precário apoio ao novo governo e as crescentes críticas às medidas tomadas, entre elas a aprovação de uma polêmica reforma no setor do emprego impulsionada pela centro-direita, em pouco tempo colocaram Rasmussen e a oposição confortavelmente à frente nas pesquisas, até que começaram a ser divulgados seus escândalos pessoais.

Primeiro, a imprensa revelou que, como presidente da ONG GGGI, financiada pela Dinamarca e outros países, ele gastou mais de 100 mil euros (R$ 350 mil) em voos na primeira classe e em hotéis luxuosos. Rasmussen falou de mal-entendido e reembolsou parte do dinheiro. Quando a polêmica perdia força, se soube que o Partido Liberal tinha desembolsado milhares de euros em roupas, sapatos e roupas íntimas como despesas de representação e feito pagamentos a vários hotéis para permitir que pudesse fumar em quartos de não-fumantes.

Vários deputados liberais criticaram abertamente Rasmussen, que tinha vivido um episódio de contas não pagas em seus anos de governador provincial, e uma reunião da cúpula do partido foi convocada em junho de 2014 para aquele que parecia ser o encontro destinado a carimbar o nome de seu substituo.

Mas Rasmussen sobreviveu, embora o dano à sua imagem tenha sido considerável. Há duas semanas, ele ainda tinha vantagem nas pesquisas, mas a primeira-ministra, Helle Thorning-Schmidt, cuja política de governo é muito criticada, o goleava em avaliação pessoal.

Durante a campanha, Rasmussen novamente assumiu seus erros ressaltando, ao mesmo tempo, a “credibilidade” da política de seu partido e a sua como arquiteto de grandes reformas administrativas, fiscais e sanitárias durante a época em que foi ministro. Ele também largou a imagem de fanfarrão, fumante e bebedor de cerveja que o acompanha há anos, embora sem nunca ter deixado completamente de lado o seu estilo mais nobre de quem participa todos os anos da festa dos escoteiros.

A perseverança foi um dos traços característicos deste político de 51 anos, casado e com três filhos, formado em Direito e com uma ampla experiência na administração. Foi o primeiro a chegar à cúpula das Juventudes Liberais, após derrubar um líder em exercício, cargo que ocupou entre 1986 e 1989 e durante o qual fez uma viagem ao Afeganistão com outros jovens políticos dinamarqueses – é desta época a foto em que ele posa orgulhoso com uma metralhadora na mão, acompanhado por vários mujahedins.

O jovem Rasmussen não desanimou em suas investidas para ser deputado, algo que alcançou em 1994 após três tentativas fracassadas, e em quatro anos, aproveitando a mudança na direção e os jogos de poder internos, chegou à vice-presidência do partido, cargo que manteve junto com o de governador provincial. Três anos depois, quando a direita ganhou as eleições, ele se tornou ministro, primeiro de Interior e de Saúde (2001-2007) e depois de Finanças (2009), antes de suceder Fogh, de cuja sombra demorou a se afastar.

A crise econômica e o desgaste do governo jogaram contra, além de seus erros na cena internacional, como quando se viu superado por desconhecer os procedimentos para exercer o cargo de presidente da cúpula de mudança climática da ONU em 2009 em Copenhague.

Rasmussen, que quando criança criou um clube de detetives, enfrenta agora um desafio definitivo: ganhar ou perder a liderança liberal. EFE

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.