Uma atípica campanha eleitoral à revelia do favorito

  • Por Agencia EFE
  • 24/05/2014 19h34

Marina Villén.

Cairo, 24 mai (EFE).- A disputa pela presidência do Egito tem dois candidatos, mas só uma campanha eleitoral, devido ao sumiço da cena pública do favorito nas pesquisas, o ex-chefe do exército Abdul Fatah al Sisi.

A ausência de Sisi dos atos eleitorais contrasta com a hiperativa agenda de seu rival, Hamdin Sabahi, mais à esquerda no espectro político egípcio, que percorreu o país em busca de apoios para as presidenciais dos próximos dias 26 e 27.

Quando anunciou sua candidatura, Sisi já avisou que sua campanha seria “não convencional”, algo que atribuiu a questões de segurança e ao temor de que algum erro em seus discursos diminuísse sua popularidade.

Os cartazes com sua foto e o lema “Viva Egito”, que inundam as ruas de cidades como Cairo, tentam resistir a sua invisibilidade.

Nem ao ato convocado com estardalhaço como o principal da campanha em 10 de maio na capital ele compareceu, onde foi elogiado por várias personalidades políticas e religiosas.

O comício perdeu importância sem o discurso de Sisi e teve público menor do que o esperado, embora muitos tenham dito à Agência Efe que o candidato, a quem consideram o “salvador” do Egito, não precisa comparecer a estes eventos porque está “em um nível superior”.

Seu maior contato com seus seguidores foi através de videoconferência. O ex-ministro de Defesa se dedicou principalmente nos 20 dias de campanha a se reunir com delegações de diferentes setores, desde jornalistas a empresários, cientistas e xeques beduínos.

A campanha organizou redes humanas e de veículos, assim como manifestações de apoio, uma das quais foi alvo recente de uma explosão que deixou quatro feridos.

Porque Sisi desperta paixão e ódio em medidas iguais. O comitê sede de sua campanha na província de Sharquiya foi incendiado, e há pichações que o chamam de “assassino”.

O dinheiro foi outra grande diferença entre as campanhas. Enquanto Sisi conta com o respaldo de empresários e do grande publicitário Tareq al Nouri, Sabahi teve que fazer malabarismos com o quase nenhum orçamento que dispôs.

Foram 12 milhões de libras egípcias (mais de US$ 1,5 milhão) frente aos 100 mil (US$ 14 mil) o contraste entre as despesas estimadas em meados da campanha pelos dois candidatos.

“Com eles estão os empresários, contigo os operários!”, gritavam de uma caminhonete, megafone em punho, um grupo a favor de Sabahi visto pela Efe na província de Dakahliya, no delta do Nilo.

De voluntários, carros particulares e casas de amigos partiu Sabahi – terceiro colocado nas presidenciais de 2012, para poder realizar comícios e distribuir panfletos, sob o lema “Um dos nossos”.

O diretor de comunicação política da campanha, Ahmed al Enany, explicou à Agência Efe que o baixo orçamento tenta ser compensado com esperança e o trabalho altruísta daqueles que acreditam no projeto de Sabahi de luta contra a pobreza.

À caravana, que percorreu zonas rurais do delta do Nilo vigiada por dois veículos policiais, foram se unindo carros com cartazes do político esquerdista e uma caminhonete com alto-falantes de onde jovens cantavam a favor do político.

De tempos em tempos Sabahi descia para cumprimentar seus partidários até chegar em Mansura, palco do comício, onde centenas de pessoas o receberam com bengalas e fogos de artifício.

Frente à institucionalidade da campanha de Sisi, mais própria de um presidente do que de um aspirante, que contou até com um avião carregando uma faixa, os de Sabahi optaram por ações mais jovens e baratas como pintar grafitis.

Em comum, ambos estiveram muito presentes nas redes sociais, atestadas com fotografias de eventos e declarações dos candidatos. Twitter e Facebook foram também os meios em que foram feitas mais críticas e brincadeiras sobre os candidatos, inclusive com contas parodiando os políticos. EFE

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