Uma florescente comunidade cristã receberá papa Francisco em Israel

  • Por Agencia EFE
  • 24/05/2014 06h15

Rua de Jerusalém com placa de boas vindas ao Papa Francisco EFE Israel se prepara para receber Papa Francisco

Elías L. Benarroch.

Jerusalém, 24 mai (EFE).- A florescente e diversa comunidade cristã em Israel receberá este fim de semana com esperança o papa Francisco em sua primeira peregrinação à Terra Santa, mas será muito difícil vê-lo pessoalmente devido a sua acirrada agenda e às estritas medidas de segurança.

Entre 160 mil e meio milhão de cristãos, segundo diversas estatísticas, vivem espalhados por todo o território israelense, número que exclui os cerca de 50 mil que vivem sob governo palestino.

“Não há estatísticas oficiais (precisas) porque está composta por todo tipo de comunidades que por um lado não são sempre reconhecidas oficialmente e pelo outro, em muitos casos, porque seus membros não dizem abertamente que são cristãos”, explicou à Agência Efe a jornalista francesa Catherine Dupeyron.

Autora do livro “Cristãos na Terra Santa: desaparecimento ou mutação?” (2007), ela assegura que as estatísticas oficiais só registram 161 mil, 80% de origem árabe e o resto, em sua maioria, emigrantes que chegaram a Israel junto com seus cônjuges ou familiares judeus, sobretudo desde a extinta URSS.

Um número que cresceu de forma vertiginosa a partir da década de 90, quando um meteórico desenvolvimento econômico impulsionou a chegada de trabalhadores estrangeiros e, mais recentemente, a de refugiados eritreus e sudaneses, ressalta.

Especialistas elevam agora o total a cerca de um quarto de milhão de pessoas que em sua maioria professam o cristianismo, incluindo a esses emigrantes, cujo número exato não se conhece e que em uma boa parte católicos, como por exemplo os filipinos.

Dupeyron também acrescenta a todos estes cálculos uma parte impossível de determinar dos 300 mil israelenses registrados oficialmente como “sem religião”, muitos deles emigrantes russos, aos quais se atribui uma “espiritualidade cristã” porque “muitos vão à missa apesar de viverem como judeus”.

Esta tendência demográfica levou o papa João Paulo II a nomear em 2003, no meio da sangrenta Segunda Intifada, um bispo auxiliar para os chamados “católicos hebreus”, até então auxiliados a um vigário.

A designação sem precedentes de Jean-Baptiste Gurion – nascido judeu e sensível portanto às necessidades religiosas, sociais e políticas deste povo – deu asas ao que alguns denominaram então a nascente “Igreja israelense”.

Mas também a rivalidade política no Patriarcado Latino de Jerusalén, liderado então e pela primera vez por um palestino, o padre Michel Sabah.

Discrepante com essa visão, o jesuíta David Neuhaus assegura que “parecia que antes não havia católicos em Israel”, quando a realidade é que a chamada “Igreja mãe” existe desde os tempos de Jesus.

Inclusive no moderno Estado judeu, fundado em 1948, já havia uma pequena mas ativa comunidade hebraico-falante desde o início da década dos anos 50.

O processo se viu truncado pela prematura morte de Gurión e a do próprio João Paulo II em 2005, e esta comunidade católica hebraico-falante – distinta da árabe de origem palestina -, voltou a ficar sob a direção de um vigário patriarcal, atualmente Neuhaus.

Nascido também no seio de uma família judia e convertido aos 25 anos, o religioso reitera que além de “não haver igrejas nacionais”, o papel desta na Terra Santa deve ser o de “unir” e não o de “dividir” ainda mais palestinos e israelenses.

“A Igreja deve ser (um lugar de) união dos dois povos. (Os crentes) não podem ignorar seus irmãos do outro lado, não podem adotar a linguagem da inimizade, seria um pecado, uma traição à palavra de Jesus”, afirmou em entrevista à Efe.

Mesmo assim, é plenamente consciente do impacto que o conflito político tem na Igreja local – “me lembram todos os dias de minha origem judaica”, diz com um sorriso e um gesto que minimiza a importância do comentário.

Abrigando os principais lugares santos, a diocese da Terra Santa foi desde sempre uma das mais “sensíveis” da Igreja, religiosa e politicamente falando.

É formada pelos territórios de Israel, Jordânia, Cisjordânia, Gaza, e Chipre, uma divisão geopolítica contemporânea à qual a Santa Sé não adaptou sua administração religiosa por motivos históricos e complexidade política.

Sob o guarda-chuva do Patriarcado, os cristãos árabe-israelenses (cerca de 128 mil, em sua maioria de origem palestina) têm um bispo auxiliar, como seus correligionários de Jerusalém, Cisjordânia e Gaza.

O sempre conciliador Neuhaus gostaria de ver “florescer” sua congregação dentro de um espírito de “unidade e cooperação exemplar com os católicos árabes”, e dentro de uma sociedade israelense mais democrática e tolerante.

Ao fio deste argumento, acredita que os crescentes ataques contra igrejas e mosteiros de radicais ultranacionalistas judeus “são um perigo para a sociedade israelense, não para a Igreja”.

“A Igreja continuará existindo, a democracia israelense não”, adverte a seus concidadãos, pedindo-lhes para romper o silêncio e protestar contra este comportamento. EFE

elb/ma

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