Uma queda longa, pacífica e histórica

  • Por Agencia EFE
  • 05/11/2014 18h39
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Cristina Zabalaga.

Washington, 5 nov (EFE).- A queda do Muro de Berlim foi “um dos momentos-chave da história” que evidenciou “grandes mudanças no mundo”, por se tratar do símbolo da Guerra Fria por excelência e por ter ocorrido de maneira pacífica, segundo alguns protagonistas que assistiram ao acontecimento, há 25 anos, nos Estados Unidos.

O desaparecimento do também conhecido como “muro da vergonha” não foi algo que aconteceu da noite para o dia, como muitos acreditam, mas sim fruto de “um processo muito longo e complexo”, que envolveu intensas negociações diplomáticas, lembrou em entrevista à Agência Efe a então porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Margaret Tutwiler.

Concluída no dia 13 de agosto de 1961, a construção que separava a Berlim comunista das áreas controladas pela República Federal da Alemanha foi batizada como “Muro de Proteção Antifascista” e com o tempo se transformou na metáfora viva da profunda divisão existente entre a União Soviética e o Ocidente.

Tutwiler lembrou “o tom solene” da mensagem que o então presidente americano, George H. W. Bush, transmitiu a todos os membros de seu gabinete após assistir pela televisão à queda do muro, em 9 de novembro de 1989, devido à ação popular.

Um ano mais tarde, seria consolidada a soberania da Alemanha unificada com a assinatura da Declaração de Nova York, em 3 de outubro de 1990.

A queda do Muro de Berlim “não aconteceu em um só dia”, insistiu Tutwiler lembrando o discurso que o ex-presidente Ronald Reagan, que muitos consideram visionário, pronunciou em 12 de junho de 1987 dirigindo-se a quem seria o último líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev.

“Mr. Gorbachev, tear down this wall!” (Senhor Gorbachev, derrube este muro!”), disse.

Sem desmerecer as palavras de Reagan, que qualificou como “emocionantes e importantes”, Tutwiler destacou o longo processo de negociações da diplomacia americana e de seus aliados europeus que antecederam a queda do muro.

Peter Robinson, então funcionário da Casa Branca e que foi o autor desse histórico discurso de Reagan, admitiu que não estava ciente de que estava escrevendo um capítulo importante da história e que o que lhe preocupava era terminá-lo a tempo.

“Só tentava cumprir o prazo de entrega e fazer bem meu trabalho”, afirmou em entrevista à Agência Efe o próprio Robinson, que em 1987 tinha 35 anos e trabalhava há cinco na Casa Branca.

A frase, pronunciada por Reagan em discurso em frente ao Portão de Brandeburgo, muito perto do Muro de Berlim, gerou polêmica durante várias semanas, incluindo críticas até mesmo dos próprios assessores mais próximos do presidente americano.

Reagan queria levar a Berlim “uma mensagem contundente” a Gorbachev e “palavras esperançosas a Berlim Oriental”, lembrou Robinson, que agora é pesquisador do Instituto Hoover da Universidade de Stanford (Califórnia).

“Escrevi as palavras, mas o discurso pertence a Reagan porque foi ele quem decidiu dizer essa frase”, acrescentou Robinson, que disse ter se sentido então “enormemente aliviado e grato” pela decisão do governante.

Embora não se possa estabelecer uma relação direta entre esse discurso e a queda do muro, 18 meses depois, Robinson afirmou estar “convicto”, por testemunhos de alemães que viviam no lado oriental, “que essas palavras os ajudaram a vislumbrar sua liberdade como uma realidade possível e factível.

Em última instância, “não foi Gorbachev quem acabou derrubando o muro”, mas os moradores da Berlim dividida, que desmontaram tijolo a tijolo esse símbolo da Guerra Fria, ressaltou.

A respeito, Christian Ostermann, analista do instituto de pesquisa Woodrow Wilson, com sede em Washington, disse à Efe que se a Berlim dividida “representou o símbolo da Guerra Fria por excelência”, não se pode esquecer que a própria “Guerra Fria terminou de maneira pacífica”.

Dois anos depois da queda do Muro, em 26 de dezembro de 1991, a União Soviética se dissolveu, e esse fato “não é banal nem deve ser menosprezado”, ressaltou Ostermann, diretor do projeto sobre História Internacional da Guerra Fria do Wilson Center.

O acadêmico reiterou a importância de transmitir às novas gerações as implicações desses fatos para que “possam assumir a condição de protagonistas” que escreveram a história, e que, em tempos difíceis, a Alemanha não pode se esquecer que graças ao esforço e a contribuição das democracias europeias e dos Estados Unidos, se transformou em uma economia estável e próspera. EFE

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