Unasul abre as portas para o diálogo na Venezuela e pede o fim da violência

  • Por Agencia EFE
  • 28/03/2014 04h24

Nélida Fernández.

Caracas, 27 mar (EFE).- A comissão de chanceleres da Unasul que visitou a Venezuela para acompanhar o diálogo em meio à crise política deixou nesta quinta-feira as primeiras recomendações para o país entre as quais estão acabar com todas as ações violentas e abraçar o respeito aos direitos humanos e à ordem democrática.

Os ministros das Relações Exteriores de Brasil, Argentina, Bolívia, Equador, Uruguai e Colômbia estiveram no país na terça e na quarta-feira desta semana para “acompanhar, apoiar e assessorar” o diálogo político na Venezuela e tiveram reuniões com todos os setores da sociedade do país, encontros que continuarão nos próximos dias.

A visita aconteceu enquanto ainda estão ocorrendo no país protestos contra o governo de Nicolás Maduro, que até o momento deixaram 35 mortos e centenas de feridos, e enquanto persiste o clima de tensão pelos processos judiciais contra dirigentes da oposição, inclusive dois prefeitos.

Ontem à noite, os chanceleres tiveram um último encontro com Maduro e fizeram recomendações ao chefe de Estado, “que o presidente acolheu plenamente”, disse o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Elías Jaua, após a reunião.

No entanto, apenas hoje foram divulgadas as primeiras impressões dos chanceleres através de um comunicado que precede o relatório final, mas o governo já respondeu a uma recomendação dos ministros ao criar nesta quinta-feira um Conselho Nacional de Direitos Humanos vinculado à Presidência.

“A Comissão identificou em seus contatos uma firme rejeição de todos os setores aos lamentáveis atos recentes de violência, condenando qualquer tentativa de ruptura da ordem democrática e manifestando seu compromisso com o respeito a todos os direitos humanos”, diz a comissão de chanceleres em comunicado.

“Nesse sentido, considera que deve ser assumido o compromisso de acabar com todas as ações violentas na Venezuela”, acrescentaram.

Além disso, afirma que “a Comissão reconhece a abertura e disposição” de Maduro de acolher as recomendações realizadas, “e especialmente congratula a vontade de determinar um mediador de boa fé que facilite o diálogo entre todas as partes”, uma solicitação que foi feita pela oposição no primeiro dia de reuniões com os chanceleres.

Os chanceleres também colocaram que “todos os setores” expressaram a “necessidade de moderação da linguagem” para gerar um ambiente pacífico, o que foi reforçado hoje pela chanceler da Colômbia, María Ángela Holguín.

“Um dos temas coversados é o da linguagem que se utiliza na Venezuela, essa linguagem que desqualifica e é bastante forte. E todas as forças políticas afirmaram que é preciso começar com um desarmamento da linguagem”, afirmou a chanceler.

Durante a visita em Caracas, os ministros puderam conhecer as impressões dos dirigentes da oposição e do governo, assim como de estudantes, empresários, ativistas de direitos humanos, representantes do judiciário e de membros da Igreja Católica sobre o conflito.

O vice-presidente da Venezuela, Jorge Arreaza, anunciou hoje que o governo atendeu à recomendação da Unasul de criar um departamento de direitos humanos ligado ao Executivo nacional e que foi estabelecido “não apenas um departamento”, mas um Conselho Nacional de Direitos Humanos.

Arreaza disse que Maduro teve uma reunião direta com María Ángela, que comentou que em seu país existe “uma figura semelhante” liderada pela vice-presidência da Colômbia.

Acrescentou que esse órgão incluiria todas as instituições que estão ligadas ao sistema de direitos humanos na Venezuela e também a uma representação das ONGs no país.

Precisamente, a ONG Foro Penal Venezolano (fórum penal venezuelano) informou hoje que apresentou à missão da Unasul um relatório com 59 casos de tortura e quase 2 mil detenções arbitrárias desde 12 de fevereiro, quando começaram os protestos contra o governo.

Além disso, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, informou hoje que um grupo de três chanceleres da Unasul preparam o diálogo entre governistas e opositores na Venezuela, mas não detalhou seus integrantes.

E assim como a Venezuela agradeceu à iniciativa da Unasul, manifestou hoje sua rejeição às supostas tentativas dos EUA de se intrometer em seus assuntos internos e acusou a secretária adjunta para a América Latina, Roberta Jacobson, de questionar a missão de chanceleres do mecanismo regional.

Tal reação ocorreu depois que os Estados Unidos insistiram hoje que o governo da Venezuela necessita do diálogo com a oposição, provavelmente através de um mediador, ao invés de criminalizar os dissidentes do país. EFE

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