União Eurasiática nasce em meio à crise econômica na Rússia
Ignacio Ortega.
Moscou, 23 dez (EFE).- A União Econômica Eurasiática (UEE), a versão pós-soviética da Comunidade Europeia que é integrada por mais de 170 milhões de consumidores, nasceu nesta terça-feira lastrada pela crise econômica na Rússia.
“Criaremos um volumoso mercado de 170 milhões de consumidores onde se garantirá a liberdade de circulação de mercadorias, serviços, capitais e mão de obra”, afirmou o presidente russo, Vladimir Putin, durante uma entrevista coletiva no Kremlin.
A Rússia, como autora da iniciativa, seus principais aliados Cazaquistão e Belarus, a caucásica Armênia e o centro-asiático Quirguistão formalizaram hoje, com a assinatura de vários acordos comerciais, a UEE, que entrará em vigor em 1º de janeiro de 2015.
“A União será um importante centro de crescimento de toda a região: se aumentarão os fluxos comerciais e investidores, se reforçarão os laços empresariais e se aumentará o bem-estar de nossos cidadãos”, disse o presidente russo.
Putin, que estimou em um total de US$ 4,5 trilhões o PIB conjunto da União, destacou que na UEE regerão “regras comerciais universais e transparentes” similares às vigentes na Organização Mundial do Comércio (OMC).
“A União Eurasiática está aberta ao trabalho com nossos vizinhos, e está aberta tanto ao leste como ao oeste”, ressaltou o chefe do Kremlin, que sempre negou que a UEE seja o primeiro passo para a restauração da União Soviética.
Putin considera que, à imagem e semelhança da União Europeia, a UEE eliminará as “fronteiras interiores” e criará um mercado que terá fronteira com a China e se estenderá do Mar Báltico até o Oceano Pacífico.
A UEE já prepara tratados de livre-comércio com Israel, Índia, Turquia, Egito e Vietnã, e acordos de cooperação com o Mercosul e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).
Setores como a agricultura, a construção e o comércio se liberalizarão imediatamente após a entrada em vigor da UEE, enquanto outros farão isso de maneira gradual, segundo o líder russo.
Putin detalhou que o mercado único de energia elétrica deverá esperar até 2019, enquanto no que se refere a gás e petróleo, não se produzirá antes de 2025.
No entanto, o projeto coincide com as dificuldades que atravessa a economia russa, que já teve um crescimento nulo em novembro e que entrará em recessão em 2015, afetada pela queda dos preços do petróleo e a desvalorização do rublo.
Dependendo do preço do barril de petróleo, a economia russa poderia contrair até 5%, o que já começou a afetar os países vizinhos, com os quais as trocas comerciais se reduziram em 2014.
A isto se soma o isolamento que as sanções ocidentais infligiram à Rússia devido à anexação da Crimeia e a sua ingerência no conflito ucraniano.
De fato, o líder cazaque, Nursultan Nazarbayev, defensor dos processos de integração no espaço pós-soviético, não duvidou em detalhar hoje abertamente os muitos desafios que o advento da UEE enfrentará.
“A instabilidade dos mercados, a política sancionadora, a desconfiança entre as grandes potências e as ameaças de agravamento da situação político-militar”, enumerou Nazarbayev, que apoiou ontem em Kiev a integridade territorial ucraniana.
A nota discordante foi colocada pelo presidente de Belarus, Aleksandr Lukashenko, que advertiu contra os delírios de grandeza e lembrou que neste momento no seio da UEE não existe a livre circulação de mercadorias, devido ao embargo russo aos alimentos ocidentais.
Lukashenko denunciou que a Rússia teria proibido unilateralmente o trânsito de mercadorias por Belarus com destino ao mercado russo com o pretexto que, em muitos casos, se tratava de produtos ocidentais com etiquetagem bielorrussa.
“O arrefecimento na tomada de decisões vitais não só pode fazer a integração perder dinâmica, como também pode representar um retrocesso. Nossos povos não aceitarão uma segunda Comunidade dos Estados Independentes”, disse.
Rússia, Cazaquistão e Belarus farão parte da UEE a partir de 1º de janeiro, enquanto a Armênia deverá esperar até o dia 2, e o Quirguistão, que assinou hoje seu ingresso, será membro de pleno direito em 1º de maio de 2015.
O Kremlin também tentou convencer à Ucrânia, mas a recusa do governo anterior de Kiev a associar-se com a União Europeia desembocou em uma revolução e na derrocada do presidente Viktor Yanukovich, cujo sucessor acabou por assinar dito acordo de associação.
O Uzbequistão também resistiu a integrar a UEE por medo de deixar de ser independente, segundo seu presidente, Islam Karimov, enquanto Moldávia, Geórgia e Azerbaijão optaram por reforçar laços com o Ocidente.
Segundo os analistas, a UEE terá seu braço armado na Organização do Tratado de Segurança Coletiva, uma espécie de Pacto de Varsóvia pós-soviético. EFE
io/rsd
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