Uruguai: Ex-ditador Álvarez será julgado por Tribunal de Honra Militar
Montevidéu, 21 jan (EFE).- O ex-ditador Gregorio Álvarez, de 88 anos, condenado pelos crimes cometidos durante a ditadura militar uruguaia (1973-1985), será julgado pelo Tribunal de Honra das Forças Armadas, o que poderia rebaixálo e eliminar sua pensão, divulgou nesta terça-feira o diretor de Assuntos Jurídicos, Notariais e de Direitos Humanos, Roberto Caballero.
Segundo Caballero, “a decisão foi do presidente da República (o ex-guerriheiro tupamaro José Mujica) e do ministro da Defesa (Eleuterio Fernández Huidobro)” através de uma resolução assinada na segunda-feira.
O tribunal vai julgar “sua conduta moral e seu comportamento ético e se concluir que não representou as Forças Armadas com honestidade e ética profissional, as sanções podem chegar à perda de sua aposentadoria e do direito do uso de seu uniforme ou de ser atendido no hospital militar”, acrescentou Caballero.
Em declarações à Efe Caballero negou que a resolução seja uma forma de “repúdio” a Álvarez mas “uma sanção moral” e esclareceu que o Poder Executivo resolveu já a composição do Tribunal de Honra que o julgará.
Os membros do tribunal “têm que ser do mesmo grau” e os comandantes que o comporão não podem se negar a participar, mesmo já estando na reserva, porque os “os oficiais do Exército, estão sujeitos à disciplina”, acrescentou.
O ex-general Gregorio “Goyo” Álvarez, que foi comandante-em-chefe do exército uruguaio entre 1978 e 1979, e governou o país entre 1981-1985, está preso desde 2007 e foi processado e condenado em 2009 a 25 anos de prisão pela morte de 37 opositores em 1977 e 1978.
Em outubro a Suprema Corte de Justiça do Uruguai absolveu o ex-ditador do homicídio de Roberto Luzardo, que morreu no Hospital Militar de Montevidéu em 1973 por falta de atendimento médico, porque não foi possível comprovar que o então general foi quem deu a ordem de deixá-lo morrer.
Luzardo, um guerrilheiro tupamaro companheiro do atual presidente do Uruguai, José Mujica, foi ferido a bala em agosto de 1972, detido em um quartel e morreu dez meses depois no Hospital Militar, duas semanas antes do golpe de Estado que acabou com a democracia no país.
Como integrante daquela guerrilha, Luzardo participou de uma ação armada que provocou a morte do coronel Artigas Álvarez, irmão de Gregorio Álvarez.
A decisão de Mujica e do ministro Fernández Huidobro, que como o presidente passou vários anos na prisão por suas ações violentas com a guerrilha contra governos constitucionais, põe um pouco mais de pimenta à complexa relação do governo com as Forças Armadas.
Esta relação viveu momentos de tensão nos últimos tempos por causa da condenação o ano passado do primeiro militar ainda na ativa, o general Miguel Dalmao.
Apesar disso, a vontade expressada publicamente por Mujica mais de uma vez é de tentar fechar as feridas daquela época também foi criticada pelos familiares das vítimas da ditadura, algumas das quais consideram que seu governo não fez o suficiente para acabar com a impunidade. EFE
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