Uruguai inaugura primeira feira da maconha um ano após a legalização

  • Por Agencia EFE
  • 15/12/2014 18h11
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Montevidéu, 15 dez (EFE).- Gerar troca de informação sobre as possibilidades medicinais, terapêuticas e industriais do cânhamo e de cannabis e combater a estigmatização do consumidor é a missão da Expocannabis, a primeira “feira da maconha” do Uruguai, país que há um ano legalizou a produção e venda da planta.

Oficinas, projeções audiovisuais, stands de informação e de venda de produtos e conferências de especialistas nacionais e internacionais completam o programa de atividades de um encontro aberto ontem em Montevidéu.

“A intenção é ter um espaço de troca para os atores estatais, organizações sociais, centros de pesquisa, agentes privados e o público presente”, disse à Agência Efe a encarregada de desenvolvimento e conteúdo da exposição, Mercedes Ponce de León.

A feira, financiada por empresas privadas, inscreve-se na atual situação jurídica do Uruguai, após a aprovação no parlamento, em dezembro de 2013, da lei que regula o mercado de cannabis no território nacional.

Assim, há cinco meses, todo cidadão uruguaio ou com residência permanente no país que deseje cultivar maconha em sua casa pode comparecer a um escritório dos Correios e solicitar uma licença de produtor para poder cultivar livre e legalmente até seis plantas de cannabis e colher até 480 gramas de maconha ao ano para consumo pessoal.

Também permite fundar clubes de cannabis, que podem ter até 45 sócios e até 99 plantas.

“Minha impressão é que o aspecto mais questionado tem a ver com a distribuição em massa de cannabis através do sistema de farmácias”, disse durante uma conferência o integrante da Secretaria Técnica do Projeto de Avaliação e Monitoração da Lei, Gustavo Robaina.

A implementação da lei, observada internacionalmente, já está em 40%-50 %, uma vez que o auto cultivo e a existência de clubes funcionam quase “em sua plenitude”, mas falta definir como será o processo de venda nos estabelecimentos farmacêuticos.

Em 1º de agosto, o Estado uruguaio realizou uma chamada às empresas interessadas em produzir maconha para venda em farmácias, tanto com fins terapêuticos como recreativos.

“Apesar de estarmos muito contentes de ter aprovado esta lei, este é o princípio que temos que seguir buscando juntos no caminho da aplicação e da melhora da lei, tanto à sociedade civil que a impulsionou e a reivindicou como o papel do Estado”, comentou o membro do Instituto de Regulação e Controle do Cannabis do Uruguai, Augusto Vitale.

Junto das conferências, uma grande variedade de oficinas mostram aspectos que vão desde conselhos no cultivo de cannabis aos benefícios da bioconstrução com blocos de cânhamo, mas também várias empresas que buscam com seus stands o apoio do novo público “legal” uruguaio.

É o caso de Garden High Pro, dedicada à produção de armários de cultivo iluminados e refrigerados.

“O Uruguai é um alvo devido ao aumento dos clube sociais e dos cultivadores particulares, que estão no auge”, explicou um dos funcionários junto a um armário que é capaz de receber até 60 plantas.

A “desestigmatização” é fundamental para a coordenadora da feira, já que, em sua opinião, “as pessoas que consomem maconha não cometem nenhum delito, e por isso apostamos em continuar a trabalhar na promoção do cânhamo e de cannabis medicinal, que é muito importante”.

A coordenadora do programa para as Américas da Drug Policy Alliance, com sede em Nova York, Hannah Hetzer, opinou que a “luta pela legalização da maconha é também a luta por algo maior”, que é a justiça social”, tanto para as pessoas deste país como de outros como o seu, Estados Unidos.

A maconha continua classificada como uma droga ilegal sob a lei federal americana, embora o governo de Barack Obama tenha dado margem aos estados para desenvolver suas próprias normativas.

“Eu vivo em um país que faz muitas coisas bastante mal feitas, principalmente em política de drogas e que usa a guerra contra elas como um sistema de opressão interna”, acrescentou Hetzer.

“O problema das drogas não é somente das agências que lutam contra elas, mas é um fenômeno complexo multidirecional e nós que somos diferentes atores sociais públicos e privados que temos que avançar sobre uma melhor resposta ao fenômeno”, sentenciou Vitale. EFE

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