Vale adulterou dados sobre lama de barragem após rompimento para “iludir as autoridades”, diz PF
A mineradora Vale, dona da Samarco ao lado da estrangeira BHP Billiton, alterou dados de cinco relatórios anuais para confundir as investigações sobre o rompimento da barragem de Fundão em Mariana (MG), que deixou 19 mortos e provocou um dos maiores desastres ambientais da história do Brasil.
A informação está em relatório da Polícia Federal divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo. A empresa brasileira admitiu mudanças nos documentos, mas negou a intenção de ludibriar os investigadores.
A Vale alterou informações sobre a concentração de minérios que produzia na cidade mineira, tornando o volume da lama lançada em Fundão menor do que o informado inicialmente. As mudanças foram feitas no mês seguinte à ruptura da barragem, em novembro do ano passado.
De acordo com o jornal, a fraude no documento valeria a pena pois multa para esse tipo de alteração giram em torno de apenas R$ 2.600. O governo brasileiro luta para obter das empresas envolvidas centenas de milhões de reais em multa de reparação pelo crime do rompimento da barragem.
“Tal fato [adulteração] tem ocorrido para que a Vale se exima de suas responsabilidades com relação aos rejeitos depositados pela mesma na referida barragem [Fundão]”, diz o documento da PF.
O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão da União que recebeu os dados anuais alterados, diz também que a Vale “não poupou esforços para dificultar” as fiscalizações na empresa.
A Vale teria feito os fiscais da DNPM esperarem duas horas por um técnico, que não chegou. Eles foram, então, recebidos por um geólogo que “estranhamente não possuía nenhuma informação por nós requerida”, afirmam os funcionários do departamento.
A companhia foi autuada cinco vezes por não cooperar e se negou a dar informações. A Vale recorreu.
Resposta
“Em momento algum a Vale tentou atrapalhar ou confundir qualquer ato realizado pelo órgão fiscalizador; ao contrário, deu total transparência e conhecimento a quem de direito”, diz a Vale em comunicado.
Segundo a empresa, as mudanças foram em “1%” dos campos dos cinco relatórios anuais (RAL – Relatório Anual de Lavra).
A companhia também nega dificultar o acesso aos funcionários da DNPM: “Os fiscais tiveram acesso às informações do complexo minerador com livre trânsito às instalações, sistemas e relatórios, sempre acompanhados por empregados da Vale, que atuaram de forma espontânea e transparente”, garante a Vale.
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