Venezuela comemora estreia de Cuba na Cúpula enquanto vive tensão com EUA

  • Por Agencia EFE
  • 08/04/2015 14h33
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Eduardo Davis.

Redação Central, 8 abr (EFE).- A crescente tensão entre Venezuela e Estados Unidos será uma pedra no sapato para os líderes que participarão da sétima edição da Cúpula das Américas, que a princípio parecia destinada a ser uma celebração da reaproximação entre Washington e Havana.

A reunião continental que será realizada no Panamá será a primeira com participação de Cuba, país que, desde 1994, quando esse tipo de reunião começou em Miami, esteve excluído pela ferrenha oposição dos Estados Unidos.

Na sexta cúpula, realizada em Cartagena de Indias (Colômbia) em 2012, a maioria dos países latino-americanos argumentou que essa tinha sido “a última sem Cuba”, o que finalmente se cumpriu, em parte devido à nova relação que Havana e Washington tentam tecer desde dezembro.

O Panamá, que desde o início tinha trabalhado para que assim fosse, foi ajudado por esse histórico passo, que sepultou mais de cinco décadas sem diálogo e foi decisivo para que a Casa Branca aceitasse que Cuba se sente, pela primera vez, na mesa americana.

“Será uma cúpula histórica, que vai encontrar um continente unido e buscando a si mesmo”, afirmou então o presidente do Panamá, Juan Carlos Varela.

No entanto, o clima de festa foi atenuado por uma crescente preocupação desde 9 de março, quando o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ampliou sanções já aplicadas à Venezuela e declarou esse país como uma “ameaça extraordinária” à “segurança nacional”.

A Venezuela protestou em todos os fóruns internacionais, e seu presidente, Nicolás Maduro, disse que essa declaração comprova os “planos de agressão” que os Estados Unidos teriam contra seu país.

Na América Latina, o governo de Maduro tinha perdido bastante crédito com o impacto causado pela detenção do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, mas a rejeição à qualificação de “ameaça” usada pela Casa Branca foi unânime, embora com diferentes matizes.

As penas mais duras foram manifestadas pelos países da Aliança Bolivariana para os Povos das Américas (Alba), incluindo Cuba, cujo presidente, Raúl Castro, declarou que no Panamá rejeitará “qualquer tentativa de isolar e ameaçar a Venezuela” e exigirá o “definitivo fim do bloqueio” americano a seu país.

O presidente boliviano, Evo Morales, cujo país também integra a Alba, subiu mais o tom e exigiu que Obama “peça perdão” à Venezuela, pois de outro modo enfrentará no Panamá os líderes “antiimperialistas” da América Latina.

Outros países, como o Brasil, se limitaram a estabelecer uma posição por meio de órgãos regionais, como a União de Nações Sul-americanas (Unasul), que qualificou a postura dos Estados Unidos como uma “ameaça intervencionista à soberania e ao princípio de não-intervenção” nos assuntos de outros países.

A Casa Branca, por sua vez, negou que esteja envolvida em golpes na Venezuela, alegou que um diálogo com o governo de Maduro, como propôs a OEA, “não resolverá os problemas” do país e confirmou que Obama se propõe a tratar o assunto com todos os líderes latino-americanos no Panamá.

Maduro, que ordenou maciços exercícios militares contra o que considera “planos de invasão” dos Estados Unidos e que pretende chegar ao Panamá com uma carta assinada por dez milhões de pessoas contra as “ameaças” desse país, também vai levar o tema ao encontro.

“Será uma oportunidade histórica para debater dois modelos: o colonial imperialista e o da solidariedade bolivariana”, declarou Maduro, que reiterou que deseja com os Estados Unidos “relações de respeito e paz”, mas que a Venezuela “não aceitará ser escrava”.

Para a oposição venezuelana, a Cúpula do Panamá também será “histórica”, disse à Agência Efe Milos Alcalay, comissário de Assuntos Internacionais da prefeitura de Caracas.

“Será um desafio para todos os democratas da América Latina e do mundo, que observam se os governos agirão como cúmplices do primitivismo ou como mediadores em busca de um hemisfério tombado a construir a unidade na pluralidade”, declarou. EFE

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