Venezuela nega obstáculos a visita de senadores brasileiros

  • Por Agencia EFE
  • 20/06/2015 02h46

Alberto Andreo.

Caracas, 19 jun (EFE).- O governo da Venezuela negou nesta sexta-feira que tivesse dificultado a visita da comitiva de senadores brasileiros ao país, enquanto membros do partido do opositor Leopoldo López, que está detido, pediram que a presidente Dilma Rousseff se pronuncie sobre a “agressão” que os parlamentares garantem ter sofrido.

Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores venezuelano atribuiu as horas de bloqueio da estrada que liga o aeroporto de Maiquetía a Caracas a um “caminhão tombado carregado com substâncias inflamáveis”.

Além disso, o governo venezuelano negou que “a segurança e a integridade física” dos senadores tenha sido comprometida e garantiu que existe “material audiovisual e fotográfico” como prova.

A Chancelaria venezuelana também indicou que alocou “um dispositivo e uma célula especial de segurança formada por mais de 30 efetivos que acompanharam durante todo o tempo” a comitiva de políticos brasileiros, em coordenação com a embaixada do Brasil.

A nota emitida pelo Ministério venezuelano assegurou que a viagem dos senadores teve como “único propósito desestabilizar a democracia venezuelana e gerar confusão e conflito entre países irmãos”, mas enfatizou que seus “laços de amizade e cooperação” com o Brasil estão “acima de qualquer manobra divisionista”.

Os parlamentares brasileiros denunciaram que durante o trajeto ontem rumo a Caracas várias pessoas bateram nos vidros do micro-ônibus em que estavam quando tentavam visitar López e que seria utilizado para chegar ao centro penitenciário no qual também está detido o ex-prefeito de San Cristóbal, Daniel Ceballos.

Além disso, a comitiva tinha a intenção de chegar à casa do prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, que também está detido, mas que se encontra em prisão domiciliar por motivos de saúde.

Diante da impossibilidade de chegar à capital pelo bloqueio da estrada, a delegação brasileira, liderada pelo senador tucano Aécio Neves, decidiu retornar ao Brasil, já que, segundo ex-governador de Minas Gerais, não recebeu “garantias mínimas de segurança” por parte do governo venezuelano.

A situação com os senadores brasileiros fez com que a Câmara dos Deputados aprovasse ontem, com urgência, uma moção de censura contra o governo da Venezuela.

Além disso, o mal-estar provocado por essa situação fez com que o Itamaraty convocasse hoje a embaixadora venezuelana no Brasil e pedisse “esclarecimentos” à ministra das Relações Exteriores do país caribenho, Delcy Rodríguez.

Integrantes do partido Vontade Popular (VP), que é liderado por López, se solidarizaram hoje com o grupo de senadores brasileiros e foram até a sede da embaixada do Brasil em Caracas para solicitar que a presidente Dilma desse uma resposta para as agressões e maus-tratos que – garantiram – os parlamentares sofreram em sua breve passagem pela Venezuela.

“Presidente Dilma Rousseff, é o momento de tomar uma posição, é o momento de falar com clareza sobre o que acontece na região, já que uma comitiva de senadores oficiais foi maltratada, foi agredida. Não se pode ignorar o que está acontecendo”, disse aos jornalistas o deputado do VP Juan Guaidó, em frente à sede diplomática brasileira.

“O Brasil tem muito a dizer a respeito, o Brasil tem muito a fazer a respeito”, afirmou o parlamentar, que está em greve de fome há dias, junto com vários companheiros de seu partido, em solidariedade a Leopoldo López.

López completou nesta sexta-feira 26 dias de greve de fome. O político de oposição pretende manter seu protesto até que o governo venezuelano cumpra uma série de exigências, entre elas determinar a data para as próximas eleições parlamentares.

A segunda vice-presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Tania Díaz, assegurou, por sua vez, que o objetivo dos políticos brasileiros em solo venezuelano era “chantagear a justiça” e “torpedear” as relações bilaterais.

Tania disse que os deputados governistas respeitam o governo do Brasil e a condição de seus senadores, mas exigiu respeito ao Poder Judiciário venezuelano “que está agindo da maneira devida para punir quem tiver que ser punido pela morte de venezuelanos”, em alusão às mortes ocorridas durante a onda de protestos antigovernamentais no ano passado.

Por causa dessas manifestações, algumas delas violentas, tanto López como Ceballos estão presos e a oposição venezuelana considera que os mesmos são “presos políticos”.

Lilian Tintori, esposa de López, manteve hoje uma reunião com a procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega, na qual solicitou que seu marido, que está há mais de três semanas em greve de fome, seja avaliado por um médico de confiança.

Lilian relatou que esteva acompanhada por Patricia Gutiérrez, esposa de Ceballos, que entregou a Luisa Ortega um relatório “de todos os presos políticos para exigir sua libertação” e outro “sobre a situação dos mais de 100 pessoas” que estariam, segundo ela, em greve de fome no país em solidariedade a López.

Antonieta Mendoza, mãe de López e que também esteve no encontro com a procuradora-geral, disse à emissora “Unión Radio” após a reunião que Luisa “vai interceder” para que os médicos do Ministério Público e o médico particular de López o avaliem. EFE

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