Vídeo mostra desleixo de peritos no caso Nisman e gera polêmica na Argentina

  • Por Agencia EFE
  • 01/06/2015 15h05
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Buenos Aires, 1 jun (EFE).- Um vídeo que mostra um perito manipulando equivocadamente a arma que causou a morte do promotor argentino Alberto Nisman gerou uma série de críticas de especialistas nesta segunda-feira, devido a uma possível contaminação da cena do crime, acusação negada pelas autoridades.

As imagens, oficiais da polícia e reveladas na noite de ontem em um programa da televisão local, mostram um agente com luvas retirando parte do sangue presente da arma com um dos dedos para ler a identificação.

Em outro plano, é possível ver o carregador recém-extraído, sem sangue. Pouco depois, o perito, com as luvas ensanguentadas, pega o objeto para extrair as balas ainda restantes.

Na sequência, o agente usa papel higiênico para limpar a parte da arma onde estava a identificação, após uma ordem da promotora encarregada da investigação, Viviana Fein, registrada no vídeo.

Fein defendeu hoje o trabalho realizado pelos especialistas e garantiu que a cena do crime não foi contaminada.

“Ele não limpou a arma toda com papel higiênico. A polícia usou simplesmente onde sabia que podia encontrar o calibre e o número de série”, afirmou Viviana em declarações à rádio “Vorterix”.

O vice-presidente da Associação de Peritos e Médicos Legistas da Argentina, Ernesto Duronto, criticou com firmeza a atuação dos policiais, afirmando que a limpeza da pistola foi semelhante a feita por um matador de aluguel.

“Assim se apaga tudo, não só o sangue, mas também as impressões digitais que poderiam estar nela. É um vídeo evidente do que ocorre no momento. Não há como duvidar do que foi feito na cena do crime”, disse Duronto à rádio “Mitre”.

Já a advogada criminalista Marta Nercellas disse à Agência Efe que o trabalho de perícia foi feito com “muito pouca seriedade”. E, se as autoridades ficaram sem provas, foi porque as fizeram desaparecer.

A atuação dos peritos ainda levanta outra polêmica, conforme a advogada. Como o governo argentino é o principal suspeito da morte, o desleixo dos agentes é uma irregularidade muito grave já que integrantes do Executivo, como o secretário de Segurança, Sergio Berni, dirigiam a operação na noite em que Nisman foi morto.

A advogada foi uma das pessoas a quem Nisman revelou que denunciaria a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, por encobrir a participação de iranianos no ataque à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em 1994.

O promotor, que investigou o atentado por dez anos, foi encontrado morto com um tiro na cabeça, apenas quatro dias depois de concretizar a denúncia contra a presidente.

A investigação segue estagnada quase quatro meses depois da morte. Há grandes divergências entre as autoridades e o trabalho conduzido pela ex-mulher de Nisman, a juíza Sandra Arroyo Salgado.

Ela afirma que o promotor foi assinado, mas Viviana mantém aberta a hipótese suicídio, ao afirmar que não existem provas conclusivas para descartar essa linha de investigação.

A Justiça argentina arquivou a denúncia de Nisman contra a presidente por “inexistência de crime”. EFE

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