Vinte anos após apartheid, África do Sul vota em um ambiente festivo
Marcel Gascón.
Johanesburgo, 7 mai (EFE).- Em um ambiente festivo e calmo, apesar de alguns incidentes isolados, a África do Sul foi nesta quarta-feira às urnas, vinte anos após a queda do regime segregacionista do “apartheid”.
Mais de 22 mil zonas eleitorais estavam previstas para abrir hoje às 7h locais (2h de Brasília), em uma votação que irá definir o novo parlamento, que por sua vez escolherá o próximo presidente para um mandato de cinco anos. Aproximadamente 10% das zonas sofreram com atrasos por problemas técnicos.
Os mais de 25 milhões de sul-africanos registrados -segundo determina a lei- para votar começaram a formar filas nos centros de votação de todo o país desde o início da manhã, nas primeiras eleições desde a morte em dezembro do ano passado do “pai” da democracia sul-africana, o ex-presidente Nelson Mandela.
Os bairros localizados do norte de Johanesburgo votaram nesta manhã com normalidade nos colégios eleitorais, que reuniram um grande número de pessoas, segundo constatou a Agência Efe.
No sudoeste da cidade, no populoso antigo gueto de Soweto, centenas de moradores formaram longas filas em escolas, igrejas e edifícios públicos convertidos em centros de votação.
Muitos eleitores vestiam camisetas do governamental Congresso Nacional Africano (CNA) e de outros partidos políticos, em uma jornada declarada como feriado pelo governo.
Cenas como esta se repetiram ao longo da África do Sul, segundo a imprensa sul-africana.
“Isto é território do Congresso Nacional Africano”, disse Caroline Sabo, uma desempregada de 30 anos em frente a uma zona eleitoral em Soweto.
Na realidade, a maioria da África do Sul é território do CNA, que segundo as pesquisas terá mais de 60% dos votos.
Seu candidato à presidência, o atual chefe de Estado, Jacob Zuma, renovará com toda probabilidade seu mandato, apesar de ter sofrido uma forte redução de popularidade devido aos escândalos de abuso de poder nos quais esteve envolvido.
Zuma votou nesta manhã na cidade de Nkandla, na província de Kwazulu-Natal, com uma atitude relaxada e uma mensagem otimista.
“Os resultados serão muito bons”, declarou à imprensa o líder do CNA, acusado pela Defensora do povo, Thuli Madonsela, de gastar indevidamente mais de R$ 45 milhões na reforma de sua residência privada, localizada justamente em Nkandla.
O descontentamento com o partido governista -que Nelson Mandela liderou no passado- pelas altas taxas de desemprego, baixo crescimento econômico e os casos de corrupção vão tirar alguns votos de Zuma, segundo as pesquisas.
Isto fez com que a opositora Aliança Democrática (DA) -considerada por muitos um partido branco- passasse a ser opção eleitoral de alguns cidadãos em um reduto tradicional do CNA como Soweto.
“Estou cansado das promessas descumpridas e a corrupção do CNA. Quero uma mudança e a DA demonstrou saber governar em Cabo Ocidental (província)”, afirmou à Efe o morador local Daniel Gumede.
O voto de gente como Gumede poderia fazer o DA crescer de 16%, votação obtida na eleição passada, até 23%, segundo as enquetes.
O partido liderado pela candidata a presidente e governadora de Cabo Ocidental, Helen Zille, deseja conquistar a maioria na votação do parlemento local na província de Gauteng -motor econômico do país e onde fica Johanesburgo. Além do parlamento nacional, vão ser eleitas as assembleias regionais de nove províncias.
O arcebispo emérito da Cidade do Cabo e prêmio Nobel da Paz, Desmond Tutu, pediu durante a jornada que os cidadãos sul-americanos agradeçam por poder votar em paz.
“Penso na Ucrânia. Penso no Sudão do Sul, e em todas essas coisas que estão passando lá”, disse Tutu enquanto votava na Cidade do Cabo, em referência aos conflitos que nos países mencionados.
As urnas devem fechar hoje às 21h locais (16h de Brasília), e os resultados provisórios serão divulgados na sexta-feira. EFE
mg/dk
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