Violência no Burundi provoca êxodo de 20 mil pessoas para Ruanda
Nairóbi, 27 abr (EFE).- Mais de 20 mil habitantes do Burundi chegaram na vizinha Ruanda nas últimas duas semanas fugindo da violência desencadeada pelas aspirações do presidente burundinense, Pierre Nkurunziza, de prolongar seu mandato, informou nesta segunda-feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
O número de mortos nos enfrentamentos registrados desde ontem entre manifestantes e a polícia é de cinco, segundo fontes da oposição relataram para a imprensa local.
Além disso, 157 pessoas foram detidas, informou hoje o diretor-geral da polícia, André Ndayambaje, quem não forneceu números de mortos e feridos nos protestos.
O Burundi vive uma onda de violência desde que Nkurunziza anunciou no sábado que se candidataria mais uma vez, o que a oposição considera ilegal.
Nas últimas duas semanas, até o dia de ontem, 20.408 burundineses cruzaram a fronteira com Ruanda, segundo dados do Acnur.
A ONU, ao lado do governo de Ruanda e de outros parceiros locais, trabalha para transportar 16 mil refugiados dos até agora principais centros de recepção, em Bugesera e Nyanza, no sul do país, ao novo acampamento de Mahama, no leste.
O “brusco aumento” na chegada de refugiados tornou necessária uma redistribuição dos assentamentos no sul de Ruanda, que se encontram cheios, indicou o Acnur em comunicado.
Desde o sábado passado, a cada dia chegam três mil refugiados do país vizinho, enquanto na semana anterior Ruanda tinha recebido 500 burundineses por dia.
Outros quatro mil burundineses buscaram asilo na República Democrática do Congo (RDC), enquanto a Tanzânia recebeu cem.
Na capital do Burundi, Bujumbura, os protestos foram retomados hoje com choques entre opositores de Nkurunziza e a polícia, que usou gás lacrimogêneo e dispersou membros da juventude do partido do governo, conhecida como “Imbonerakure”.
Embora ainda não exista uma emergência humanitária no Burundi, a Acnur estima que necessitará mais de US$ 11 milhões para responder as necessidades das 50 mil pessoas afetadas nas primeiras oito semanas de violência.
“No pior cenário possível, 350 mil pessoas poderiam necessitar ajuda humanitária nos próximos seis meses”, alertou a Acnur.
O fluxo de refugiados começou semanas antes do governante Conselho Nacional para a Defesa da Democracia (CNDD-FDD) anunciar que o hutu Nkurunziza se apresentaria de novo às eleições presidenciais, cujo primeiro turno será realizado em junho.
O anúncio, tornado público no sábado, provocou uma onda de protestos entre os partidários da oposição, para quem a Constituição burundinesa proíbe as aspirações do presidente.
A candidatura de Nkurunziza provocou temor entre grandes setores da população burundinesa, que há apenas uma década saiu de uma guerra civil (1993-2005) que afundou o país e ainda afeta a sociedade.
Após sua independência da Bélgica, em 1962, o Burundi viveu dois fatos qualificados como genocídios: o massacre de hutus pelo exército dominado por tutsis, em 1972, e o assassinato em massa de tutsis por hutus, em 1993.
Agora, são membros da oposição e famílias tutsis que começaram a deixar o país, diante de informações que apontam para a distribuição de armas para a Imbonerakure. EFE
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