Vítimas colombianas despertam de pesadelo de meio século de violência

  • Por Agencia EFE
  • 10/07/2014 22h15
  • BlueSky

Albert Traver.

Barrancabermeja (Colômbia), 10 jul (EFE).- Centenas de vítimas colombianas chegaram nesta quinta-feira na cidade de Barrancabermeja, uma das regiões mais castigadas pelo conflito armado entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que já dura 50 anos, para apresentar suas propostas de paz aos negociadores dos dois lados.

O fórum regional de vítimas foi organizado pela ONU e pela Universidade Nacional da Colômbia, realizado entre hoje e amanhã a pedido dos negociadores do governo e os da Farc, que abordam em Cuba exatamente esse espinhoso ponto de como ressarcir as vítimas da violência.

Hoje se constatou, nesta distante cidade banhada pelo rio Magdalena que, apesar da eventual assinatura da paz, agora mais perto do que nunca, as vítimas ainda não veem a luz no fim do túnel.

Os números de vítimas do conflito armado assustam e não cessam. Segundo o Centro de Memória Histórica, esta disputa deixou 220 mil mortos, 25 mil desaparecidos, 5,7 milhões de deslocados e 27 mil sequestrados, além de dois mil massacres.

“Precisamos que não volte a acontecer”, disse à Agência Efe Viviana (nome fictício de uma vítima que ainda tem temor de revelar sua autêntica identidade), ao manifestar uma dos principais questões das vítimas: as garantias de não repetição.

Esta mulher, que chegou a Barrancabermeja vinda de Catatumbo, na fronteira com a Venezuela, viu passar por sua região guerrilheiros e paramilitares que fizeram da população civil objeto de vinganças com massacres, assassinatos seletivos e desaparecimentos.

“As Farc têm que se comprometer a deixar as armas e desmantelar suas unidades”, acrescentou.

Em sua memória, assim como na de milhares de vítimas, continua viva a lembrança das paramilitares Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), já que uma vez desmobilizadas, em 2006, muitos de seus membros voltaram a se organizar nas “bacrim”, quadrilhas criminosas.

Pedro é outra vítima, um camponês que vive em Bucaramanga à espera que a Lei de Vítimas e Restituição de Terras, uma iniciativa do presidente Juan Manuel Santos, junto do mesmo processo de paz, permita voltar para seu sítio.

“É urgente mudar a lei para que seja mais rápida, mas também não sabemos se poderemos retornar porque aqui em Santander os grupos anti-restituição estão muito fortes”, afirmou à Efe o camponês.

Viviana, Pedro e outras centenas de vítimas apresentaram nesta quinta-feira dezenas de propostas que, segundo a ONU, chegarão em setembro à mesa de Havana, onde se insiste em conhecer a verdade será a base para a reconciliação, assim como ouvir o perdão das vítimas por seus crimes.

Apesar das Farc e do governo não detalharem as razões que os levaram a escolher a Barrancabermeja para realizar o fórum, todos sabem que este porto petroleiro, capital da região do Magdalena Meio, foi um dos principais focos do conflito, um botim disputado por paramilitares e guerrilheiros.

Segundo as autoridades locais, Barrancabermeja tem mais de 50 mil vítimas, um quarto da população, e nos últimos meses desapareceram três líderes comunitários, crimes que foram atribuídos aos Urabeños e Los Matos, os grupos herdeiros dos paramilitares.

Berço de sindicalistas e um dos poucos redutos da esquerda legal, a poucos quilômetros dali nasceu há 50 anos o Exército de Libertação Nacional (ELN), a segunda maior guerrilha colombiana e que ainda exerce poder na região.

Este fórum sobre as vítimas segue o formato de outros que já aconteceram também organizados pela ONU e pela Universidade Nacional da Colômbia, sobre outros assuntos da agenda relativos à posse da terra, participação política e drogas ilícitas.

Sobre esses assuntos já alcançaram pré-acordos, todos para pôr fim ao longo conflito armado colombiano, o único ativo que existe hoje dia na América e o que deixou o maior número de vítimas no continente. EFE

at/cd-rsd

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.